(Enquanto não
termino a leitura do relatório FMI de avaliação independente do programa de
ajustamento em Portugal, em cuja equipa se destaca o nome do economista português
Sérgio Rebelo, há já números
oficiais que colocam bem em evidência uma das sequelas dos programas de ajustamento,
a desigualdade.)
O relatório de avaliação
independente promovido pelo FMI sobre o programa de ajustamento em Portugal,
aliás extensivo a todos os programas europeus, é de leitura obrigatória. O
prestígio entre pares americanos do economista Sérgio Rebelo, que pode ser
conotado contudo menos com perigosos desvios esquerdistas, projeta no relatório
um interesse inequívoco, do qual me ocuparei em posts muito próximos, agora que alguns dias de férias da consultadoria
me permitirão recuperar leituras que ficam para trás, na lufada calorenta
destes dias.
Mas a própria União Europeia
tem publicado informação relevante sobre um dos critérios possíveis de avaliação
dos programas de ajustamento, a evolução da desigualdade. Michael Dauderstädt e Cem Keltek no Social Europe de hoje, que acaba de me chegar à caixa de correio
eletrónico, focam essa sequela dos programas de ajustamento. Em termos muito
simples, recorrem a um dos indicadores de medida da desigualdade na distribuição
do rendimento mais utilizados, o rácio 80%/20%, que mede o rácio entre as
proporções de rendimento apropriadas pelos 20% mais ricos e pelos 20% mais
pobres e analisam também as taxas de crescimento do rendimento dos quintis de
distribuição do rendimento (populações estruturas em cinco grupos iguais
ordenados dos mais pobres para os mais ricos. Fazem-no comparando sempre os valores
em termos nominais e à paridade dos poderes de compra, como recomenda
a precaução.
As evidências apontam
para que a partir de 2009, em termos médios na União e consequentemente com todas
as imperfeições associadas a uma média que oculta desvios significativos entre
países (com Portugal e os países bálticos à frente da desigualdade europeia), se
assiste a um novo paradigma de desigualdade europeia, com agravamento da mesma.
E o que parece mais
relevante é a comparação dos ritmos de crescimento do rendimento por quintil de
população entre os estados-membros. É visível o confronto norte-sul, bastante
desfavorável a este último.
Mas há aqui um elemento
que confirma as análises desenvolvidas pelo grupo de trabalho em que estou
inserido (Pilar González, Luis Delfim Santos e Hugo Figueiredo). Os quintis
intermédios em Portugal viram a sua posição de crescimento do rendimento
relativamente preservada, o que contrasta com os restantes países do ajustamento.
Este tema de investigação continua relevante pois não cola facilmente com o
discurso da degradação da posição relativa das classes médias de que tanto se
fala mas tão pouco se investiga.
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