quarta-feira, 20 de julho de 2016

OS MALUQUINHOS DAS PORTAGENS




(Mais do que a redução dos preços das portagens para as autoestradas do interior, contestada pelo desconto de ser apenas de 15%, o que me espantou politicamente foi a defesa das reduções das portagens em Agosto na ponte sobre o Tejo)

Sou dos que penso que admitir que os problemas estruturais do interior português se resolvem com autoestradas não portajadas é mais uma das trágicas ilusões que alimentam o nosso imaginário político, contaminando também os movimentos da sociedade civil que essa matéria alimenta. Nas condições estruturais desses territórios, nem as autoestradas são a mezinha mágica da atratividade, sobretudo desinseridas de estratégias mais integradas de intervenção, nem a inexistência de portagens inverte decisivamente a penalização estrutural de tais territórios. Depois, nas condições de mobilização de recursos públicos que a economia portuguesa vai atravessar durante largos anos e atendendo ao suicídio para a coisa pública que algumas parcerias público-privadas rodoviárias representaram, será sensato pelo contrário constituir fundos de manutenção e conservação de tão belo parque rodoviário.

Que o PS tenha considerado a necessidade de cumprir compromissos eleitorais para com as populações do interior e tenha apostado em redução de portagens, certamente terá pesado a margem de manobra orçamental de que dispõe para o fazer, embora duvide do rigor da demonstração que sugere que a perda de receita será em parte compensada pelo acréscimo de tráfego. Nunca saberemos se esse aumento de tráfego para o período da redução se produziria mesmo na ausência da referida redução. Mas nada a opor ao cumprimento de compromissos, embora os 15% de redução possam não ter o respaldo político popular que o PS esperaria.

Entretanto, Bloco de Esquerda e PCP vieram à liça para defender a sua dama metropolitana de Lisboa, reclamando a supressão ou desconto da travessia da ponte sobre o Tejo, invocando, primeiro, que é uma medida de austeridade da Troika e por isso deve ser imediatamente removida e, segundo, que a ponte já estará paga pelo que não pagar já é a solução.

Que a esquerda não está interessada em saber e discutir que há escolhas públicas para fazer e isso implica opções claras já o sabia. Mas que as duas forças políticas não tenham o pudor de se abster de justificar a medida de redução ou supressão de portagens apenas pela sua identificação formal com a Troika já me espanta significativamente. Os maluquinhos das portagens não conseguem perceber que é de escolhas públicas que se trata e sobretudo que o país não terá condições de financiamento público na linha do que permitiu o grande esforço de infraestruturação viária. Por isso, a constituição de um fundo de manutenção e conservação das grandes infraestruturas viárias é essencial e seria importante que os cidadãos tivessem a segurança de que as portagens para isso deveriam contribuir. Para além disso, ninguém parece convencido a discutir por que meios será possível reduzir a massa de veículos que diariamente cruzam as travessias do Tejo numa lógica de mobilidade de baixo teor de emissões.

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