(Mais do que a
redução dos preços das portagens para as autoestradas do interior, contestada pelo
desconto de ser apenas de 15%, o que me espantou politicamente foi a defesa das reduções das portagens
em Agosto na ponte sobre o Tejo)
Sou dos que
penso que admitir que os problemas estruturais do interior português se
resolvem com autoestradas não portajadas é mais uma das trágicas ilusões que alimentam
o nosso imaginário político, contaminando também os movimentos da sociedade
civil que essa matéria alimenta. Nas condições estruturais desses territórios,
nem as autoestradas são a mezinha mágica da atratividade, sobretudo desinseridas
de estratégias mais integradas de intervenção, nem a inexistência de portagens
inverte decisivamente a penalização estrutural de tais territórios. Depois, nas
condições de mobilização de recursos públicos que a economia portuguesa vai
atravessar durante largos anos e atendendo ao suicídio para a coisa pública que
algumas parcerias público-privadas rodoviárias representaram, será sensato pelo
contrário constituir fundos de manutenção e conservação de tão belo parque
rodoviário.
Que o PS tenha considerado
a necessidade de cumprir compromissos eleitorais para com as populações do
interior e tenha apostado em redução de portagens, certamente terá pesado a margem
de manobra orçamental de que dispõe para o fazer, embora duvide do rigor da
demonstração que sugere que a perda de receita será em parte compensada pelo
acréscimo de tráfego. Nunca saberemos se esse aumento de tráfego para o período
da redução se produziria mesmo na ausência da referida redução. Mas nada a opor
ao cumprimento de compromissos, embora os 15% de redução possam não ter o
respaldo político popular que o PS esperaria.
Entretanto, Bloco de
Esquerda e PCP vieram à liça para defender a sua dama metropolitana de Lisboa,
reclamando a supressão ou desconto da travessia da ponte sobre o Tejo,
invocando, primeiro, que é uma medida de austeridade da Troika e por isso deve
ser imediatamente removida e, segundo, que a ponte já estará paga pelo que não
pagar já é a solução.
Que a esquerda não está
interessada em saber e discutir que há escolhas públicas para fazer e isso
implica opções claras já o sabia. Mas que as duas forças políticas não tenham o
pudor de se abster de justificar a medida de redução ou supressão de portagens apenas
pela sua identificação formal com a Troika já me espanta significativamente. Os
maluquinhos das portagens não conseguem perceber que é de escolhas públicas que
se trata e sobretudo que o país não terá condições de financiamento público na
linha do que permitiu o grande esforço de infraestruturação viária. Por isso, a
constituição de um fundo de manutenção e conservação das grandes
infraestruturas viárias é essencial e seria importante que os cidadãos tivessem
a segurança de que as portagens para isso deveriam contribuir. Para além disso,
ninguém parece convencido a discutir por que meios será possível reduzir a
massa de veículos que diariamente cruzam as travessias do Tejo numa lógica de
mobilidade de baixo teor de emissões.
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