(Se estamos à
espera da solidariedade de Guindos e do PP espanhol poderemos esperar sentados, e não adianta contar com uma Europa
solidária, por muito que nos custe e isso possa atiçar os quebrantos do PCP e
do Bloco)
Não sei exatamente
em que contexto e o conhecimento resulta de uma intervenção de António Costa em
Setúbal, o ministro das Finanças espanhol Guindos, o tal que aspiraria à
presidência creio que do Eurogrupo, terá produzido a já por muitas outras vezes
reiterada máxima de “não me confundas por favor” então com o alvo na Grécia.
Como o tempo do entusiasmo pelos patinhos feios que marcam golos que são um
autêntico hino à perfeição está a terminar, o Espanha não é Portugal tem algo
de crónica anunciada. Tão grave, aliás, como o foi em tempos o repelente
português das estrelas do PAF que Portugal não era a Grécia. Em ambos os casos,
há a particularidade que se calhar não é coincidência de que ambos “chega-te
para lá” saem de governos associados ao PPE e dirigidas a situações de governo
não canónicas, ou seja a subida do radicalismo do SYRIZA ao poder na Grécia e
uma maioria parlamentar de esquerda no Parlamento em Portugal. Ao preço de
saldo a que a solidariedade europeia chegou e à clareza cristalina com que essa
variável perdeu peso nas orientações do diretório europeu ou da hegemonia
alemã, não me espanta que outros “chega-te para lá” possam ser declarados à
medida que o grupo dos países em dificuldades possa crescer. E a situação é
tanto mais grave quanto mais na situação política portuguesa essa quebra de
solidariedade é o único argumento que PSD e CDS têm para esgrimir como
estratégia de regresso ao poder. Ou seja, aquilo que dizemos que tarda em
emergir, uma política transnacional, ela está já a acontecer no que respeita à
identificação da política defendida pelo PPE com alguns projetos políticos em
alguns estados-membros que recebem das orientações europeias uma ajuda não só
preciosa, mas imprescindível para a sua sobrevivência. A esquerda está a
anos-luz dessa possibilidade, até porque pactuou cumplicemente com a estratégia
do PPE e acordou tarde para a camisa-de-forças em que voluntariamente se meteu.
E, como é
óbvio, afastado o casamento de conveniência da solidariedade intraeuropeia, a
Espanha não é mesmo Portugal por muito que António Costa não se fique e zurza
na experiência espanhola a propósito da incapacidade de ter Governo. Mas o
exemplo escolhido por António Costa não é o mais feliz. A razão é que por mais
que se invoque o problema da incerteza com a falta de um governo, a diferença
da Espanha está precisamente nisso. A economia espanhola, apesar da
cronicamente elevada taxa de desemprego (mas isso é assunto para outras
conversas) responde a essa incerteza com alguma robustez, questão que Portugal
mesmo com governo legítimo não se pode orgulhar. Não é esta a ocasião
apropriada para nos interrogarmos sobre as causas dessa
diferença. Mas a questão dimensão do mercado nacional (com a capitalidade de
Madrid a explorar a mesma), a robustez do sistema financeira (atacada mais
seriamente do que as cócegas realizadas ao sistema português para não incomodar
poderosos), o melhor domínio das condições de comercialização e distribuição e
a própria diversidade do engenho regional espanhol são realidades que
contrastam bem com as nossas equivalentes debilidades.
Por isso,
apesar do troco correto com que Costa brindou as declarações de Guindos, a
verdade é que há mesmo diferenças e, por isso, ainda que devamos nos bater por
uma Europa mais solidária, convém estar ciente das diferenças. Não queria ser
alarmista, mas conviria não confiar demasiado na capacidade ilimitada do BCE de
adquirir dívida pública nacional.
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