Volto à última “Quadratura do Círculo”, na sequência do tratamento que aqui lhe foi dado pelo meu colega de blogue. Sobretudo porque a crítica de António Lobo Xavier à posição do PSD quanto ao sistema financeiro, e em especial à Caixa Geral de Depósitos, não foi apenas “demolidora” mas também esclarecida e politicamente pedagógica em face do atual estado da vida do País. Penso que merece, por isso, uma reprodução explícita à laia de registo para memória futura.
“Eu acho que o que se está a passar é uma coisa absolutamente inaceitável do tal ponto de vista da simplificação de temas complexos. O que é que o PSD está a fazer? E às vezes tem alguma colaboração do CDS. Está, sobre a Caixa Geral de Depósitos, a dizer o seguinte: primeiro, que a Caixa Geral de Depósitos está à deriva, mais ou menos (não são estas as palavras mas é que não tem direção e está no meio de uma incerteza); e, depois, que os problemas de capital da Caixa Geral de Depósitos decorrem todos de erros na concessão de empréstimos feitos por gestões do tempo do PS. Ora, isto é falso nos dois planos. Em primeiro lugar, a Caixa Geral de Depósitos não está à deriva e é lamentável que um partido político que nomeou a administração que está em funções na Caixa Geral de Depósitos fale de uma forma desprimorosa das pessoas que ainda lá estão, que cumpriram dignamente o seu mandato e com profissionalismo – a Caixa Geral de Depósitos não está à deriva, a Caixa Geral de Depósitos está a manter os seus depósitos, os seus clientes, tem as dificuldades normais do setor bancário em Portugal, mas não está à deriva, é falso. Em segundo lugar, também não é verdade que os problemas de capital da Caixa decorram todos de erros criminosos, que são mais ou menos conhecidos e propalados, de gestão lá para trás, boa parte das necessidades de capital da Caixa decorrem de exigências regulatórias e de critérios novos – haverá uma parte com certeza de monumentais erros políticos, haverá uma parte de crimes, mas uma boa parte são exigências regulatórias.
O que este Governo está a fazer, o outro podia ter feito. E é por isso que eu não percebo como é que se faz política assim. Eu seria incapaz de estar a fazer uma crítica num plano onde eu tenho imensas responsabilidades sobre o passado. Porque o que este Governo está a fazer é a dizer a Bruxelas: é possível que a Caixa dê lucros, é possível que a Caixa funcione como um banco normal, é possível que se eu colocar lá 2-3 mil milhões de euros qualquer acionista normal, qualquer investidor normal pudesse ter a mesma decisão. E, portanto, a retirar a capitalização da Caixa do tema das ajudas de Estado, o que é altamente conveniente para o sistema e para a economia portuguesa. Isto que está a fazer este Governo, o outro podia ter feito. Porque não fez? Porque não tentou? Porque se queixou de que o plano de reestruturação da Caixa não funcionava e que a Caixa não dava lucros e não tratou de mudar esse plano? Não percebo como é que é possível. Ainda por cima, falar de atrasos. O prazo que passou desde que o Governo, este, pediu a capitalização da Caixa neste modelo é um prazo absolutamente recorde. Não é fácil encontrar, mesmo em outros países, exemplos em que – cumprindo-se a nossa aposta – em tão curto prazo tenha sido possível fazer uma coisa destas. Ora isto qualquer Governo teria podido fazer e, portanto, é lamentável que se faça jogo político a este propósito.”
Alguém pode encarregar-se de mandar divulgar esta pequena peça de oratória aplicada pelos agentes políticos da direita mais ressabiada (com Passos ao comando, e de muito largo) e pelos inúmeros comentadores atontados que pululam pela nossa praça?
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