quarta-feira, 13 de julho de 2016

VAI PELA SOMBRA E DE ORELHA CAÍDA




(Com a saída de cena de David Cameron, eu não diria melhor do que Chris Dillow no Stumbling and Mumbling)

Este blogue também se faz de citações, sobretudo quando elas representam bem o nosso pensamento sobre a matéria em causa.

A saída de cena de David Cameron, personagem que tanto inspirou a política do PAF, pode ser aparentemente altiva como um qualquer personagem da upper class inglesa aprende nas escolas de elite a encenar. Mas na minha interpretação o rasto que fica não joga com essa altivez. As palavras de Chris Dillow no Stumbling and Mumbling espelham fielmente a minha visão do seu legado. Cito, por isso:

O exercício da função de primeiro-Ministro por David Cameron deve ser considerado um falhanço. Queria que o Reino Unido permanecesse na União Europeia, mas falhou; queria preservar o Reino mas a Escócia pode bem sair em resultado do Brexit; queria curar um Reino Unido dividido mas deixa o país dividido e com crimes de ódio a crescerem. Uma grande razão para esses falhanços reside na política económica. Austeridade desnecessária contribuiu para o Brexit de quatro maneiras:

·        Contribuindo para a estagnação dos rendimentos de muitos, aumentou a hostilidade para com os imigrantes, que alguns apoiantes do Brexit exploraram. Quando tal prática se combina com desigualdade elevada, que Cameron pouco combateu, também contribuiu para a crescente desconfiança face às elites. Talvez tenha sido por isso que Theresa May falou de abandonar a austeridade e reduzir a desigualdade, que ela agora pode ver, com o benefício de retrospetivamente poder ver que tem efeitos políticos e culturais tóxicos;
·        Piorando a qualidade dos serviços públicos, Cameron e Osborne criaram a falsa impressão de que os imigrantes eram os responsáveis pelas pressões sobre o Sistema Nacional de Saúde britânico. Como Simon diz, algumas pessoas votaram a favor do Brexit  porque pensaram erradamente que a redução da imigração melhoraria o sistema de saúde;
·        As políticas de austeridade ocorreram contrariamente à sabedoria estabelecida de muitos economistas especialistas. Calando os peritos nesse domínio, foram por isso menos capazes de apelar à sua voz para justificar os méritos de ficar na União Europeia. Criaram um precedente no sentido da rejeição do mainstream económico.
·        Apoiando internamente a austeridade isso significou que os Conservadores não podiam argumentar a favor de políticas expansionistas na zona euro – políticas que poderiam ter simultaneamente reduzido a migração para o Reino Unido, contribuindo também para minimizar a imagem da União Europeia como uma instituição falhada. Isso quer dizer que Cameron não podia argumentar que o Reino Unido estava a desempenhar um papel positivo na Europa, não podendo consequentemente argumentar que a permanência do Reino Unido na União Europeia conduziria a uma melhor União. Isso significou que o enviesamento para o “wishful thinking” estava mais do lado do Brexit do que do Remain.”

Por isso eu acho que, embora escondido na altivez arrogante da sua retórica, com bom humor e tudo no Parlamento, Cameron sai pela sombra e lá no fundo de orelha caída.

Sem comentários:

Enviar um comentário