(Tristes vão os
tempos quando desaparecem referências do nosso intelecto, é este o caso da morte de Abbas Kiarostami,
a quem devemos a representação de um outro Irão que certamente nunca conhecerei
ao vivo)
Tenho uma
especial admiração por aqueles que em condições difíceis, muitas vezes com o
risco da própria vida, não hipotecam a sua criatividade. Esta semana, numa
participação que tive numa sessão organizada pelo Agrupamento de Escolas de
Gondomar (grato à Dra. Lília Silva pelo convite), em franco diálogo com
especialistas da educação que não sou, o Professor Matias Alves da Universidade
Católica trouxe para a sua intervenção um bonito poema de António Botto, na voz
da Manuela de Freitas, “O mais importante na vida é criar”.
Pois é com
as palavras de Manuela de Freitas na cabeça que registo neste espaço o desaparecimento
de Abbas Kiarostami. O cineasta iraniano ensaiou durante largo tempo a
tentativa de não hipotecar a sua criatividade no contexto da emergência da
revolução iraniana, acabando por não resistir aos sucessivos limites a que a
sua criatividade foi sendo submetida. Mas a minha visão do Irão nunca foi a
mesma depois de visualizar o Sabor da Cereja.
Também esta
semana desapareceu ouro cineasta maldito, Michael Cimino, do qual o Deer Hunter e o The Year of Dragon foram referências incontornáveis. Tempos tristes
em que a finitude das nossas referências se sucede a um ritmo impressionante.
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