Apresentação a Norte do novo livro de Eduardo Paz Ferreira (EPF), “Por uma Sociedade Decente”. Onde um dos nossos mais notáveis concidadãos e intelectuais se interroga sobre como, neste intervalo em que viveu/vivemos – enquadrou-o simbolicamente através de uma referência cinematográfica centrada em Ken Loach, do “O Espírito de 45” ao desencantado “Eu, Daniel Blake” que este ano venceu Cannes – nos afastamos tanto dos valores civilizacionais e sobre a esperança que ainda acalenta de que os valores voltem a poder mudar o mundo.
EPF tinha-nos vindo a convocar com mensagens fortes e ilustrativas, como são algumas das que seguem: “A primeira condição para termos uma sociedade decente é a de que cada um de nós tenha um comportamento decente. Não tenho, todavia, qualquer dúvida em reconhecer que esta é uma condição necessária, mas não suficiente, até porque, se não faltam estímulos aos comportamentos indecentes, eles rareiam quanto ao comportamento decente, que tende a passar despercebido.” Ou: “Frequentemente quem tenta pautar a vida pelas regras morais e éticas que caracterizam um sociedade decente é considerado um 'trouxa'. Palavras outrora nobres, como utopia ou idealismo, passaram a ser objecto de desvalorização geral, e quem persiste nessa via é visto como alguém que perde o seu tempo em vez de se juntar ao esforço comum de consolidação da ordem estabelecida.” Ou, ainda: “A política é uma arte, uma ciência e uma dedicação de pessoas generosas que aceitam servir o interesse público e sacrificar-se e é esta a concepção de política que reinou durante muitos anos na Europa. De repente, passou a ter-se uma ideia muito utilitária da política, muito virada para interesses particulares ou, na melhor das hipóteses, para interesses partidários. Que seja uma carreira encarada como qualquer outra carreira profissional é que fica um pouco mais complicado. Este sistema de portas giratórias é, de facto, um desastre.”
E a sessão valeu realmente a pena, com a moderação do próprio a ser muito bem enriquecida pelas intervenções de João Fernando Ramos (com um texto especialmente corajoso e brilhante), Miguel Guedes e Afonso Camões. A terminar, EPF sublinhou o “caos intranquilo” daqueles momentos de final da tarde para logo os legitimar em absoluto ao rematar com aquele “como é o mundo em que vivemos”. Passemos, então, à fase que agora se impõe como urgente: ler o livro e refletir em torno dele...
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