domingo, 17 de julho de 2016

DA ITÁLIA COMO PROBLEMA

(http://www.imf.org, Country Report No. 16/222)

Os analistas dividem-se entre os que consideram que é a Alemanha o maior problema da Europa e os que pensam que esse é a Itália. Pessoalmente, acho que as coisas não podem ser postas assim, já que o maior problema é objetivo e de fundo e não normativo e conjuntural. Mas se quisermos jogar aquele jogo perverso e cada vez mais disseminado, veja-se então a mais elucidativa forma gráfica com que o mais recente relatório do FMI sobre a Itália (associado às consultas realizadas em 2016 no quadro do Artigo IV) apresenta a rota desviante do país da bota, sublinhando ainda aspetos tão determinantes como o de que a Itália não regressará antes de meados da década de 20, na melhor das hipóteses, aos seus níveis de output anteriores à crise (duas décadas de crescimento perdido!), o da necessidade de uma infindável catadupa de “reformas” (addressing long-standing structural rigidities, referenciando concretamente ineficiências a nível dos mercados de produtos e serviços, salários em crescimento superior ao da produtividade, tributação elevada, ineficiências do setor público e lentidão da justiça), o da exigência de um fortalecimento dos amortecedores orçamentais e o da imprescindibilidade de uma limpeza efetiva no sistema financeiro.

Mais em concreto, o gráfico explicita sem margem para dúvidas a crescente dessincronização da Itália relativamente aos restantes parceiros da Zona Euro e a outros países desenvolvidos, i.e., as suas taxas mais baixas em um quarto de século de toda a amostra retida, quer em termos do crescimento do PIB quer em termos do crescimento da produtividade total dos fatores. Acrescentem-se à margem três outras notas relevantes: os riscos (trouble ahead!) potencialmente associados à situação espanhola (cuidado com as bocas excessivamente demagógicas, senhor Guindos!), a gritante saliência da Irlanda pela positiva e uma posição de Portugal que, sendo medíocre, está ainda assim bem fora do foco dos piores dos piores.

(Satoshi Kambayashi, http://www.economist.com)

(António Fraguas Forges, http://elpais.com)

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