(Disseram alguns
que se tratava de mera coincidência. Eu, nos últimos tempos, acredito cada vez
menos em coincidências. E
o confronto entre as duas festas é bem uma imagem do país que temos e das soluções
que se antecipam para lhe proporcionar o melhor futuro possível)
Dizem alguns
que por simples coincidência, eu cá já não acredito muito nas mesmas, mas vamos
dar de barato que se tratou de facto do resultado de um calendário estival, com
toda a gente a necessitar de alguma libertação das agruras do dia-a-dia. Por iniciativa
do primeiro-ministro António Costa, que abriu os jardins da residência oficial à
homenagem a Mário Soares e por organização da pretensamente representada
sociedade civil, assumida por Leonor Beleza, que de sociedade civil pura e genuína
tem muito pouco, que resolveu também homenagear acarinhando Cavaco Silva, tivemos
ontem na centralizada e calorenta Lisboa duas festas com pleno significado.
A homenagem a Mário
Soares tem a marca de 40 anos do 1º Governo constitucional, de um bloco central
que por vezes constituiu uma saída histórica para os destinos do país, isto quando
a esquerda à esquerda do PS ainda considerava que o contacto com o PS era
doença que poderia apegar-se e gerar um contágio perigoso. A festa dos 40 anos
do 1º Governo Constitucional apanhou já Mário Soares num elevado grau de
debilidade e por isso sem a sua palavra sempre de grande informalidade convivial
não foi o que poderia ter sido com um Soares ainda mais jovial. Francisco Pinto
Balsemão, Rui Vilar e António Costa substituíram um discurso impossível de Soares
e percebemos por todos aqueles testemunhos o sentido histórico de um acordo de bloco
central. O PSD era de facto outro, mais fiel à sua origem doutrinária e a
radicalização entre PS e PSD nunca atingira o grau atingido nos últimos tempos,
que deixa marcas que só o tempo poderá esbater. No meio de tanta solenidade, as
imagens mostravam que a informalidade da maneira de estar não desaparecera dos
jardins oficiais. O envelhecimento das gerações responsáveis por essa maneira de
estar na vida e na política, e para mim as duas posturas são indissociáveis, se
forem diferentes cheira a plástico, estava bem presente nas imagens que nos
foram proporcionadas. Há um sério problema de substituição dessa geração e poucos
exemplos dessa substituição tranquila estavam ali presentes.
Nos outros jardins, creio
que de um hotel Pestana qualquer, o ambiente era mais formal. O próprio homenageado
Cavaco nunca terá a jovialidade convivial de Soares, autoelogia-se com uma
facilidade impressionante e percebe-se que dali nunca poderia ter resultado uma
qualquer aproximação política. Tudo ali é pose. São dois mundos bem contrastados.
O sempre coerente Eanes esteve nas duas organizações. Marcelo passou por esta
festa como um relâmpago e um casamento de um amigo libertou-o de uma presença
bem significativa.
Não sei se os
ecossistemas das duas festas são representativos de alguma divisão no País. Da
minha parte, pertencerei seguramente ao ecossistema da festa de Soares. Mas
reconheço que malta mais jovem, com capacidade de fazer coisas bonitas e
grandiosas pelo País não se sinta confortável em nenhum dos ecossistemas e esse
é o grande problema do País.
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