(O valor social
da palavra e da escrita dos economistas tem vindo a cair a pique, interessaria saber por que razão isso está a
acontecer)
INTRODUÇÃO
O futuro
(iminente) exercício das funções de Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional do Norte (CCDR-N) por parte do meu colega de blogue condu-lo
inevitavelmente a uma distanciação deste espaço de opinião e crítica, que bem compreendo,
se bem que possa não ser absoluto. O blogue prossegue enquanto houver energia e
motivação suficiente da minha parte. Ele foi concebido para um número mais
elevado de intervenientes, o que no seu lançamento não se confirmou. O estatuto
era claro. A prosa responsabiliza quem a escreve e apenas a quem a escreve. Assim
continuará a ser e quando alguma reflexão incidir sobre questões de alçada da
CCDR-N o devido registo de conflito de interesses (de amizade com o futuro Presidente)
será realizado. Boa fortuna para retribuir a coragem em aceitar a Presidência no
contexto atual é o que desejo sinceramente E agora vamos ao tema de hoje.
O resultado
inesperado e por isso mais impactante do referendo do BREXIT confirmou uma tendência
que vinha de antes. Os argumentos económicos, e foram muitos e diversificados que
se esgrimiram a favor do REMAIN, não tiveram aparentemente impacto no favorecimento
deste último. Tudo como se os votantes no LEAVE encarassem a participação dos
experts económicos e financeiros como uma demonstração dos interesses ocultos
na defesa da permanência, precipitando paradoxalmente a rejeição da globalização
à la União Europeia. Jean Pisanni-Ferry interroga-se no Social Europe sobre as
razões dos avisos sobre os custos económicos do LEAVE não terem tido eco significativo
na decisão dos eleitores. A argumentação apresentada pelo economista francês tem
justificação. Independentemente dos custos ou benefícios económicos envolvidos
na decisão do BREXIT, a verdade é que subjacente ao avanço político do LEAVE
está uma rejeição clara da globalização e dos seus efeitos seja nos indivíduos,
seja nos estados-nação. Ora, a posição dominante entre os economistas é de
alinhamento, frequentemente incondicional e acrítico, com a globalização. É
isso que leva, por exemplo, outro economista, Paul de Grauwe, a defender que a
União Europeia deveria colocar-se do lado dos perdedores com a globalização,
equilibrando poderes e combatendo a desigualdade.
Já tenho
alguma dificuldade em encaixar a ideia de que a não previsão dos acontecimentos
da crise financeira de 2007-2008 conduziu os economistas à irrelevância da sua
palavra e escrita. Mais do que não prever o acontecimento, o que terá mais contribuído
para manchar a folha da relevância dos economistas foi a defesa intransigente
dos mecanismos que conduziram à sofisticação e desregulamentação financeira e,
após serem concretizados os efeitos da turbulência, a sua intransigente e acéfala
defesa dos mercados. A insensibilidade à complexidade dos efeitos sociais da
crise e também dos ajustamentos austeritários lançou a confusão entre as
sociedades quanto ao papel dos economistas. Longes vão os tempos em que reconhecíamos
a existência de pilares economistas sobre cujos ombros o mundo podia ser economicamente
organizado. Nos tempos de Keynes o conflito das ideias não era menor do que hoje
existe nessa matéria. E isso não impedia o reconhecimento das vozes autorizadas.
Hoje, o critério do preço de uma hora de conferência é um valor de mercado, mas,
lá está, estamos perante um domínio em que o valor de mercado diverge do valor
social e substancialmente.
Há dias, no
Project Syndicate, Brad DeLong interrogava-se sobre que ombros iríamos construir
o nosso futuro, após compreendermos que a agónica recuperação de 2007-2008 exigirá
mudanças mais profundas. Curiosamente, a sua resposta recaía em três grandes
vultos, Keynes, Karl Polanyi e Tocqueville. Do primeiro temos falado muito. Dos
restantes dois muito pouco e isso é uma falha a ser colmatada na melhor das oportunidades.
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