terça-feira, 5 de julho de 2016

OS ECONOMISTAS JÁ TIVERAM MELHORES DIAS




(O valor social da palavra e da escrita dos economistas tem vindo a cair a pique, interessaria saber por que razão isso está a acontecer)

INTRODUÇÃO

O futuro (iminente) exercício das funções de Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) por parte do meu colega de blogue condu-lo inevitavelmente a uma distanciação deste espaço de opinião e crítica, que bem compreendo, se bem que possa não ser absoluto. O blogue prossegue enquanto houver energia e motivação suficiente da minha parte. Ele foi concebido para um número mais elevado de intervenientes, o que no seu lançamento não se confirmou. O estatuto era claro. A prosa responsabiliza quem a escreve e apenas a quem a escreve. Assim continuará a ser e quando alguma reflexão incidir sobre questões de alçada da CCDR-N o devido registo de conflito de interesses (de amizade com o futuro Presidente) será realizado. Boa fortuna para retribuir a coragem em aceitar a Presidência no contexto atual é o que desejo sinceramente E agora vamos ao tema de hoje.

O resultado inesperado e por isso mais impactante do referendo do BREXIT confirmou uma tendência que vinha de antes. Os argumentos económicos, e foram muitos e diversificados que se esgrimiram a favor do REMAIN, não tiveram aparentemente impacto no favorecimento deste último. Tudo como se os votantes no LEAVE encarassem a participação dos experts económicos e financeiros como uma demonstração dos interesses ocultos na defesa da permanência, precipitando paradoxalmente a rejeição da globalização à la União Europeia. Jean Pisanni-Ferry interroga-se no Social Europe sobre as razões dos avisos sobre os custos económicos do LEAVE não terem tido eco significativo na decisão dos eleitores. A argumentação apresentada pelo economista francês tem justificação. Independentemente dos custos ou benefícios económicos envolvidos na decisão do BREXIT, a verdade é que subjacente ao avanço político do LEAVE está uma rejeição clara da globalização e dos seus efeitos seja nos indivíduos, seja nos estados-nação. Ora, a posição dominante entre os economistas é de alinhamento, frequentemente incondicional e acrítico, com a globalização. É isso que leva, por exemplo, outro economista, Paul de Grauwe, a defender que a União Europeia deveria colocar-se do lado dos perdedores com a globalização, equilibrando poderes e combatendo a desigualdade.

Já tenho alguma dificuldade em encaixar a ideia de que a não previsão dos acontecimentos da crise financeira de 2007-2008 conduziu os economistas à irrelevância da sua palavra e escrita. Mais do que não prever o acontecimento, o que terá mais contribuído para manchar a folha da relevância dos economistas foi a defesa intransigente dos mecanismos que conduziram à sofisticação e desregulamentação financeira e, após serem concretizados os efeitos da turbulência, a sua intransigente e acéfala defesa dos mercados. A insensibilidade à complexidade dos efeitos sociais da crise e também dos ajustamentos austeritários lançou a confusão entre as sociedades quanto ao papel dos economistas. Longes vão os tempos em que reconhecíamos a existência de pilares economistas sobre cujos ombros o mundo podia ser economicamente organizado. Nos tempos de Keynes o conflito das ideias não era menor do que hoje existe nessa matéria. E isso não impedia o reconhecimento das vozes autorizadas. Hoje, o critério do preço de uma hora de conferência é um valor de mercado, mas, lá está, estamos perante um domínio em que o valor de mercado diverge do valor social e substancialmente.

Há dias, no Project Syndicate, Brad DeLong interrogava-se sobre que ombros iríamos construir o nosso futuro, após compreendermos que a agónica recuperação de 2007-2008 exigirá mudanças mais profundas. Curiosamente, a sua resposta recaía em três grandes vultos, Keynes, Karl Polanyi e Tocqueville. Do primeiro temos falado muito. Dos restantes dois muito pouco e isso é uma falha a ser colmatada na melhor das oportunidades.

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