(Eu sei que o
ambiente do Chão da Lagoa é propício a relevar que os primatas também podem
fazer política, mas que Passos Coelho se deixe entusiasmar pela símio-partidarite,
espanta-me. Talvez devesse
não espantar-me.)
O Chão da
Lagoa foi palco de manifestações de boçalidade política que certamente os primatas,
se fizessem política, rejeitariam. Deve haver por isso e por aquelas bandas
algo no ar que faz despertar o que de mais demagógico existe nas cabeças das
criaturas que utilizam aquele palco. Pensei, ingénuo talvez, que a era de
Miguel Albuquerque com as suas rosas e ar urbano apagasse essa tradição e trouxesse
àquela região um mínimo de decência verbal e um travão às símio-boçalidades. Mas
não. A inércia deve ser muita e o negócio dos comes-e-bebes deveria ir-se
abaixo sem aquele tipo de números.
Pois Passos Coelho foi
na onda e com aquela capacidade de argumentação que o caracteriza, de grande
estadista de bandeirinha na lapela, atirou-se ao tema das sanções para gritar
alto e bom som que anda tudo enganado. As sanções são preventivas, ou seja acontecem
porque a maioria dos governos europeus desconfia do que está a fazer-se em
Portugal e, por isso, antes que aconteça o que eles consideram descalabro, lançam-se
sanções sobre o problema para o agravar e demonstrar que tinham razão. Eis uma
tirada digna do Chão da Lagoa e do seu mais legítimo espírito. Marcelo no casamento
para que tinha sido convidado deve ter-se engasgado, pois com esta argumentação
e maneira de fazer política o Presidente bem pode pregar aos quatro ventos que compromissos
e acordos sobre matérias cruciais dificilmente os terá. A adesão por parte de Passos
Coelho ao espírito do Chão da Lagoa significa a explicitação do desespero político
de quem alinha na vinculação de Bruxelas para poder voltar ao poder. Pode ser
que se engane e acabe na irrelevância do caixote do lixo da história. É que os socialistas
podem errar em muita coisa, o acordo parlamentar à esquerda pode conter as suas
próprias irracionalidades, mas assumir que só pode ser-se poder com a palmatória
de Bruxelas a ajudar é coisa que pode não agradar ao eleitor. E se em
alternativa agradar é altura de mudar de país para os que estejam em condições
de o poder fazer.
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