(A nova
legislatura em Espanha ainda vai no adro, mas os protagonistas da procissão estão agora melhor definidos)
A nova legislatura em
Espanha deu ontem o primeiro passo para que se cumpra o esperado debate da
investidura a 2 de agosto, em plena canícula de Madrid. O PP de Rajoy e de
Santamaría conseguiu ontem com inesperada facilidade a eleição das presidências
do Congresso de Deputados (Ana Pastor) e do Senado (Pío García-Escudero).
Particularmente marcante foi a relativa facilidade com que Ana Pastor (uma
amizade de longa data com Rajoy e uma personalidade que se tem mantido
saudavelmente à margem de tudo que é escândalo de corrupção no PP) conquistou a
presidência do Congresso. Não é uma vitória qualquer, porque do outro lado da
barricada estava Patxi López do PSOE, que ocupava esse lugar na legislatura
anterior, e que considero ser a única personalidade com capacidade para dar ao
PSOE um impulso reorientador.
A vitória de Pastor
sobre López não foi tangencial e, de acordo com a leitura das interpretações de
um voto que é secreto, ela só terá sido possível com o apoio e abstenção de
forças independentistas, pasme-se, incluindo catalães e Partido Nacionalista
Basco. Ora, esta aparente guinada nas posições independentistas só poderá ter
uma das duas interpretações, cada uma das quais é pior do ponto de vista dos
interesses do PSOE. Primeiro, pode ter havido alguma inesperada negociação de
bastidores entre o PP e as forças independentistas, abrindo margem para
finalmente se encontrar algum reforço das autonomias e por essa via estancar o
maior radicalismo dos que querem proclamar independência à margem dos preceitos
constitucionais. Se tiver sido este o caso, o PSOE sofre um abalo não sei se é
telúrico mas forte. O PSOE sempre se apresentou como a única força política
capaz de estruturar a Espanha das Nações e das autonomias, dado o centralismo
endémico do PP. Segundo, o que pode ter ocorrido é as forças independentistas
terem antecipado a irrelevância política do PSOE e o desatino do PODEMOS nesta
nova legislatura e terem arrepiado caminho noutra direção. Ambas as
possibilidades consagram uma trajetória de irrelevância política para o PSOE,
convidativa a uma hibernação tática, para recuperar forças e encontrar uma
liderança que vá para além do rosto simpático, jovem e informal de Sánchez.
Confirmam-se os meus
vaticínios de posts anteriores. A
inexistência de um PCP em Espanha determina que não haja aproximação possível
entre o PSOE e o PODEMOS, criando a impossibilidade física e cultural de
aparecer uma solução de governação inspirada na alternativa que Costa preparou.
E é a ideia de uma irrelevância da esquerda para algum tempo que pode estar a
ser preparada. O PODEMOS continuará entretido entre o localismo e a
capitalização de algum protesto, com Pablo Iglésias a pôr e a tirar gravata,
refinando a experimentação do seu próprio tratado de ciência política.
O primeiro passo da
eleição das presidências do Congresso e do Senado não significa que o Rei vá
ter vida fácil na construção de uma solução de governo. Mas creio que com a
aproximação PP – CIUDADANOS que funcionou nestas eleições de mesa e com a
eventual nova atitude das forças independentistas o PSOE terá extrema
dificuldade em não abster-se e não viabilizar a governação de Rajoy e
Santamaría. Resta saber se o fará com algumas exigências. Se o PSOE tender,
pelo contrário, para a precipitação de umas terceiras eleições, então isso
soará a suicídio e aí a trajetória da irrelevância acentuar-se-á dramaticamente
com o reforço óbvio do PP nessas eventuais novas eleições. Tudo se compõe para
que o PSOE tenha a sua cura de rejuvenescimento de ideias mais do que etária.
Para António Costa não é o melhor cenário, pois precisaria de um PSOE ativo na
questão europeia a partir da governação e não apenas a partir da Internacional
Socialista. Mas é melhor esse interregno do que a irrelevância no tempo longo.
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