segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A UNIÃO MOVIMENTA-SE



(A tontice dos conservadores britânicos colocou o BREXIT numa embrulhada de contornos finais hoje ainda completamente indeterminados. Porém, no seio de tal magna incerteza, os países da União têm-se movimentado sob diversas expressões. O conjunto dos oito países, escandinavos (sem a Noruega), bálticos e a Holanda e Irlanda, têm ressuscitado a ideia da Liga Hanseática e teremos de estar atentos a essa movimentação, pois a cooperação escandinava e a báltica regra geral não brincam em serviço.)

A embrulhada do BREXIT tem mostrado com evidência segura o que o populismo pode gerar de perturbador e de caminho para o caos. As negociações agonizam num misto explosivo de incompetência conservadora, de assomo regulador por parte dos negociadores europeus e de perigosa interação com a luta política interna entre Theresa May, as suas próprias hostes dissidentes e os trabalhistas apostados na recuperação do poder, apesar dos riscos de um BREXIT não negociado. Nas condições de extrema incerteza em que a situação política do Reino Unido se viu mergulhada, a sempre atenta jornalista Teresa de Sousa perguntava há dias se será do interesse da União encostar a primeira-ministra conservadora às cordas. Partilho essa dúvida.

Embora reconhecendo os contornos de extrema indeterminação que os diferentes cenários do BREXIT podem colocar à União, a verdade é que diferentes países se têm movimentado em busca de novos posicionamentos. A União com a saída do Reino Unido não será já mais a mesma e no momento que se atravessa, de não completamento do edifício e de negociação de um novo ciclo de programação ninguém quer deixar de influenciar à sua maneira o rumo do futuro europeu.

Alertado pelo sempre informado FT Brussels Briefing, concluo que vale a pena seguir com mais atenção a tentativa de revitalização da Nova Liga Hanseática, composta pela Irlanda mais os países escandinavos e os países bálticos. Ninguém ignora a carga histórica poderosa que a velha Liga Hanseática transporta consigo. O Porto histórico conhece bem esse protagonismo, pois foram identificados exemplos e práticas de comércio ancestrais com esses territórios do Norte da Europa. A Nova Liga Hanseática não esconde que o seu posicionamento visa preservar algumas condições que os países que a integram associavam à presença do Reino Unido e também, de certo modo, marcar presença face à reinvenção do eixo franco-alemão, marcado pelo advento em força de Macron e pelas dificuldades políticas internas, apesar da sua coragem política, da senhora Merkel. O que sabemos deste movimento é que as cooperações báltica e escandinava são muito profissionais, pragmáticas e imaginativas, constituindo experiências de grande alcance no contexto intra-europeu. Recorda-se, por exemplo, a Joint Expeditionary Force de 10.000 homens para deslocações rápidas envolvendo os bálticos, os escandinavos, o Reino Unido e a Holanda. Há já alguns anos cheguei a ter contactos com a NORDREGIO, uma instituição colaborativa no âmbito do planeamento territorial entre países escandinavos, com participação muito relevante nos trabalhos do ESPON – estudos para o ordenamento do território à escala europeia.

O que sabemos hoje das iniciativas promovidas pela Nova Liga Hanseática aponta para a relevância de algum conservadorismo fiscal, para a aposta em matéria de completamento do mercado único, para a manutenção de uma certa filosofia liberal que os países integrantes não querem ver desvalorizada com a saída do Reino Unido e para a conservação de VOZ dos pequenos países. O jornalista Mhereen Khan do FT Brussels Briefing refere que o grupo se tem aberto a outros contactos “de outros membros da União a leste como a Polónia, a República Checa e do sul como Malta e Portugal para convencer Bruxelas a completar o mercado único europeu”, o que não deixa de ser curioso. Do mesmo modo e noutra geometria, a Nova Liga Hanseática é também referida como estando presente na chamada Iniciativa dos 3 mares (Báltico, Adriático e Negro).

Quer isto significar que a geoestratégia em geometria variável parece estar na moda, anunciando talvez uma outra era nos posicionamentos no interior da União, o que interessa a Portugal e que o nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, bem compreenderá. Aliás, aproveitando o pretexto, fica aqui o elogio pela firmeza com que a questão da detenção dos empresários portugueses ou luso-venezuelanos pelo governo de Maduro foi tratada a nível diplomático. A diplomacia com o trágico governo de Maduro (bem aventurado para o nosso empedernido PCP) tenderá a ser futuramente explosiva. Longe vão os tempos das missões de Sócrates e Portas ao governo chavista e a diplomacia dos interesses económicos com regimes desta natureza queima qualquer um, sempre com a chantagem à porta de uma comunidade de emigração tão forte. Mas nestas coisas há sempre algo de positivo a compensar tragédias, pelo menos parcialmente. Os jornais de fim-de-semana davam conta que o regresso de emigrantes da Venezuela a Estarreja está a redinamizar negócios locais protagonizados pelos que regressam.

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