(A tontice dos conservadores britânicos colocou o BREXIT numa embrulhada de
contornos finais hoje ainda completamente indeterminados. Porém, no seio de tal
magna incerteza, os países da União têm-se movimentado sob diversas expressões.
O conjunto dos oito países,
escandinavos (sem a Noruega), bálticos e a Holanda e Irlanda, têm ressuscitado
a ideia da Liga Hanseática e teremos de estar atentos a essa movimentação, pois
a cooperação escandinava e a báltica regra geral não brincam em serviço.)
A embrulhada do BREXIT tem mostrado com evidência segura o que o populismo
pode gerar de perturbador e de caminho para o caos. As negociações agonizam num
misto explosivo de incompetência conservadora, de assomo regulador por parte
dos negociadores europeus e de perigosa interação com a luta política interna
entre Theresa May, as suas próprias hostes dissidentes e os trabalhistas
apostados na recuperação do poder, apesar dos riscos de um BREXIT não negociado.
Nas condições de extrema incerteza em que a situação política do Reino Unido se
viu mergulhada, a sempre atenta jornalista Teresa de Sousa perguntava há dias
se será do interesse da União encostar a primeira-ministra conservadora às
cordas. Partilho essa dúvida.
Embora reconhecendo os contornos de extrema indeterminação que os
diferentes cenários do BREXIT podem colocar à União, a verdade é que diferentes
países se têm movimentado em busca de novos posicionamentos. A União com a
saída do Reino Unido não será já mais a mesma e no momento que se atravessa, de
não completamento do edifício e de negociação de um novo ciclo de programação
ninguém quer deixar de influenciar à sua maneira o rumo do futuro europeu.
Alertado pelo sempre informado FT Brussels Briefing, concluo que vale a
pena seguir com mais atenção a tentativa de revitalização da Nova Liga
Hanseática, composta pela Irlanda mais os países escandinavos e os países
bálticos. Ninguém ignora a carga histórica poderosa que a velha Liga Hanseática
transporta consigo. O Porto histórico conhece bem esse protagonismo, pois foram
identificados exemplos e práticas de comércio ancestrais com esses territórios
do Norte da Europa. A Nova Liga Hanseática não esconde que o seu posicionamento
visa preservar algumas condições que os países que a integram associavam à
presença do Reino Unido e também, de certo modo, marcar presença face à
reinvenção do eixo franco-alemão, marcado pelo advento em força de Macron e
pelas dificuldades políticas internas, apesar da sua coragem política, da
senhora Merkel. O que sabemos deste movimento é que as cooperações báltica e
escandinava são muito profissionais, pragmáticas e imaginativas, constituindo
experiências de grande alcance no contexto intra-europeu. Recorda-se, por exemplo,
a Joint Expeditionary Force de 10.000
homens para deslocações rápidas envolvendo os bálticos, os escandinavos, o
Reino Unido e a Holanda. Há já alguns anos cheguei a ter contactos com a
NORDREGIO, uma instituição colaborativa no âmbito do planeamento territorial
entre países escandinavos, com participação muito relevante nos trabalhos do
ESPON – estudos para o ordenamento do território à escala europeia.
O que sabemos hoje das iniciativas promovidas pela Nova Liga Hanseática
aponta para a relevância de algum conservadorismo fiscal, para a aposta em
matéria de completamento do mercado único, para a manutenção de uma certa
filosofia liberal que os países integrantes não querem ver desvalorizada com a
saída do Reino Unido e para a conservação de VOZ dos pequenos países. O jornalista
Mhereen Khan do FT Brussels Briefing refere que o grupo se tem aberto a outros
contactos “de outros membros da União a leste como a Polónia, a República Checa
e do sul como Malta e Portugal para convencer Bruxelas a completar o mercado
único europeu”, o que não deixa de ser curioso. Do mesmo modo e noutra
geometria, a Nova Liga Hanseática é também referida como estando presente na
chamada Iniciativa dos 3 mares (Báltico, Adriático e Negro).
Quer isto significar que a geoestratégia em geometria variável parece estar
na moda, anunciando talvez uma outra era nos posicionamentos no interior da
União, o que interessa a Portugal e que o nosso Ministro dos Negócios
Estrangeiros, Augusto Santos Silva, bem compreenderá. Aliás, aproveitando o
pretexto, fica aqui o elogio pela firmeza com que a questão da detenção dos
empresários portugueses ou luso-venezuelanos pelo governo de Maduro foi tratada
a nível diplomático. A diplomacia com o trágico governo de Maduro (bem
aventurado para o nosso empedernido PCP) tenderá a ser futuramente explosiva.
Longe vão os tempos das missões de Sócrates e Portas ao governo chavista e a
diplomacia dos interesses económicos com regimes desta natureza queima qualquer
um, sempre com a chantagem à porta de uma comunidade de emigração tão forte.
Mas nestas coisas há sempre algo de positivo a compensar tragédias, pelo menos
parcialmente. Os jornais de fim-de-semana davam conta que o regresso de
emigrantes da Venezuela a Estarreja está a redinamizar negócios locais
protagonizados pelos que regressam.
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