(Os nacionalistas independentistas usam frequentemente o
valor de reconhecimento da história para, frequentemente, apelarem a uma razão
histórica profunda justificativa do seu nacionalismo e direito à secessão de
outros estados. Não raras vezes, porém, mais do que história oferecem-nos
encenações da mesma, senão mesmo deturpações interpretativas dos factos. Apesar da inequívoca identidade catalã, alguns
dos mitos que o independentismo catalão invoca como efemérides apelando à
resistência não resistem a um contraditório histórico num painel plural de
historiadores.)
A publicação da obra do grande historiador da universidade de Oxford John
Elliott, SCOTS & CATALANS –UNION & DESUNION (Yale University Press,
2018) não deve ter agradado ao independentismo catalão. A publicação da tradução
espanhola da obra de Elliott aconteceu por estes dias e mais uma vez os independentistas
catalães devem mordido os lábios, já que Elliott, um profundo conhecedor da
história espanhola compara os independentismos escocês e catalão e não encontra
a identificação que a divulgação internacional do projeto catalão tem forçado a
todo o custo.
O exercício de história comparativa a quatro níveis, Grã-Bretanha versus
Espanha, Escócia versus Catalunha, que Elliott é precioso pois vai do período
de 1469—1625 aos tempos do controverso referendo que o governo regional
improvisou e que determinou a aplicação do já célebre artigo 155º da Constituição
espanhola.
A apresentação da versão espanhola (reparem na nuance da mudança do título) realizou-se em Madrid com a presença de
Elliott e do também grande historiador espanhol Álvarez Junco. Como não podia
deixar de ser, a imprensa espanhola deu algum realce à iniciativa, não ignorando
provavelmente que em 2017 John Elliott escreveu ao Times em Londres uma carta
em que denunciava a manipulação da história que o separatismo catalão estava a realizar
na sua campanha interna e internacional.
Um resumo das posições de Elliott poderia ser este:
“Diferentemente
da Escócia, a Catalunha nunca foi independente. A Escócia marcou a sua
diferença pela religião. E também por um medievaismo artificial a que a
literatura de Walter Scott deu voo. Catalunha
apoiou a sua identidade na língua e na criação de um caráter nacional fictício.
Um dos aspetos mais característicos do nacionalismo consiste na capacidade de
se arrogar a representação de um povo e de uma alma. Trata-se de dotar um e
outro de uma pureza e de uma essencialidade têm por hábito vincar a diferença,
quando não a superioridade”. (El País)
O seu colega de seminário em Madrid Álvarez Junco trouxe para o debate então
realizado uma recordatória que deveríamos manter viva:
“A União
Europeia é uma ideia extradordinária. É um antídoto ao nacionalismo e à
nostalgia do estado-nação. É verdade que a União gerou um aparato burocrático
desmedido, mas a ideia de uma fórmula supranacional, superestatal, representa
um espaço de convivência muito mais desejável do que o obscurantismo
nacionalista nas suas lendas e tentações restritivas”. (El País)
Assino por baixo.
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