(Nos tempos mais recentes, as análises sobre o
comportamento do investimento antes e após a Grande Recessão têm-se
multiplicado, fazendo luz sobre as condições que explicam o abaixamento do
investimento e a dificuldade em recuperar o seu ritmo decrescimento. Os resultados encontrados encontram diferenças nas
economias periféricas.)
Keynes foi coerente ao longo de toda uma vida na sua incessante determinação
em colocar o investimento no centro da dinâmica da procura efetiva. A ele se
deve uma teorização do comportamento empresarial de investimento que chegou praticamente
intacta aos nossos dias e que, a cada recessão e recuperação, mostra a sua profunda
identificação com o ambiente dos negócios e das decisões que o animam ou comprometem.
O comportamento de lenta gestação do investimento nos tempos mais recentes tem-se
afirmado como um dos mais relevantes fatores explicativos da recuperação lenta que
sobreveio à Grande Recessão. É por isso importante dar voz aos estudos que têm procurado
explicar esse comportamento do investimento.
O Econbrowser (link aqui) dá relevo a um estudo de Ines Buono e Sara Formai integrado numa
obra coletiva sobre a macroeconomia posterior à Grande Recessão que procura explicar
o crescimento relativamente anémico do investimento, tomando por referência o
período compreendido entre 1990 e 2016. O modelo considerado trabalha sobretudo
três determinantes do investimento: (i) o comportamento esperado da procura; (ii)
a incerteza medida por indicadores de volatilidade financeira; (iii) o custo do
uso do capital medido por variáveis de custo do crédito e do preço relativo do
capital.
Do ponto de vista geral, o comportamento esperado da procura tem um forte
papel explicativo no período anterior à crise financeira, ao passo que os
fatores da incerteza passam a comandar o comportamento do investimento no período
posterior à Grande Recessão. A influência do custo de uso do capital é
praticamente constante ao longo do período analisado.
O que é interessante anotar é que os resultados apresentam algumas
diferenças quando se analisar especificamente os países europeus periféricos. Assim,
nestes países, o investimento é bastante reativo às condições de incerteza no pós
Grande Recessão e, ao contrário dos dados globais, a variável do custo do uso
do capital é determinante.
Os resultados mostram entre outras coisas como a instabilidade financeira
afeta a economia real, dada a relevância das questões da incerteza. Por outro lado,
nas economias periféricas o custo do acesso ao capital assume um outro relevo, colocando
em evidência a influência da taxa de juro no custo de uso do capital.
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