sábado, 6 de outubro de 2018

O QUE PUXA PARA BAIXO O INVESTIMENTO?



(Nos tempos mais recentes, as análises sobre o comportamento do investimento antes e após a Grande Recessão têm-se multiplicado, fazendo luz sobre as condições que explicam o abaixamento do investimento e a dificuldade em recuperar o seu ritmo decrescimento. Os resultados encontrados encontram diferenças nas economias periféricas.)

Keynes foi coerente ao longo de toda uma vida na sua incessante determinação em colocar o investimento no centro da dinâmica da procura efetiva. A ele se deve uma teorização do comportamento empresarial de investimento que chegou praticamente intacta aos nossos dias e que, a cada recessão e recuperação, mostra a sua profunda identificação com o ambiente dos negócios e das decisões que o animam ou comprometem.

O comportamento de lenta gestação do investimento nos tempos mais recentes tem-se afirmado como um dos mais relevantes fatores explicativos da recuperação lenta que sobreveio à Grande Recessão. É por isso importante dar voz aos estudos que têm procurado explicar esse comportamento do investimento.

O Econbrowser (link aqui) dá relevo a um estudo de Ines Buono e Sara Formai integrado numa obra coletiva sobre a macroeconomia posterior à Grande Recessão que procura explicar o crescimento relativamente anémico do investimento, tomando por referência o período compreendido entre 1990 e 2016. O modelo considerado trabalha sobretudo três determinantes do investimento: (i) o comportamento esperado da procura; (ii) a incerteza medida por indicadores de volatilidade financeira; (iii) o custo do uso do capital medido por variáveis de custo do crédito e do preço relativo do capital.

Do ponto de vista geral, o comportamento esperado da procura tem um forte papel explicativo no período anterior à crise financeira, ao passo que os fatores da incerteza passam a comandar o comportamento do investimento no período posterior à Grande Recessão. A influência do custo de uso do capital é praticamente constante ao longo do período analisado.

O que é interessante anotar é que os resultados apresentam algumas diferenças quando se analisar especificamente os países europeus periféricos. Assim, nestes países, o investimento é bastante reativo às condições de incerteza no pós Grande Recessão e, ao contrário dos dados globais, a variável do custo do uso do capital é determinante.

Os resultados mostram entre outras coisas como a instabilidade financeira afeta a economia real, dada a relevância das questões da incerteza. Por outro lado, nas economias periféricas o custo do acesso ao capital assume um outro relevo, colocando em evidência a influência da taxa de juro no custo de uso do capital.

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