(Face à aproximação do ano eleitoral,
com as Europeias a transcenderem a mera questão nacional para se transformar
num imperativo verdadeiramente europeu, começa a perceber-se alguma agitação
miudinha no seio do Governo e parlamentares do PS. Nos
tempos mais recentes, a referida agitação miudinha alimenta-se por agora de confusões
de dois tipos: estruturais a exigirem soluções de fundo e desnecessárias que
requerem apenas algum juízo na governação.)
A agitação miudinha pré-eleitoral é comum, faz parte das regras do jogo democrático
e das possíveis alternâncias que uns disputam e outros aspiram a evitar. O
problema agrava-se quando essa agitação pré-eleitoral é majorada por algumas
confusões para as quais a resposta depende da natureza das mesmas.
Comecemos por uma confusão gerada por algo de preocupante e estrutural. O caso
de Tancos parece-me ser um caso paradigmático desse tipo de confusão. Para além
da falta de autoridade do ex-ministro Azeredo Lopes, que vi dois dias depois da
saída do governo, despreocupado e liberto numa grande superfície de materiais
de construção em Vila Nova de Gaia, o caso de Tancos encerra a perigosa evidência
de que as Forças Armadas são tudo menos um corpo coeso. Não compro a ideia de
que o desgoverno que parece irradiar do caso de Tancos seja uma consequência
direta e imediata da compressão e parcimónia orçamentais a que as Forças Armadas
foram sujeitas no período da Troika e no pós Troika. Não é minha intenção
branquear esses períodos. Mas o desgoverno a que me referi é já sintoma de degenerescência
de comportamentos e de valores, não entendo muito bem o que os serviços de informação
da República andam a fazer neste momento. Uma perigosa dualidade parece
instalada: profissionalismo e rigor em missões internacionais valiosas para a
imagem do país e desgoverno a nível interno, com situações a lembrarem a guerra
do Solnado e muito corporativismo. Temos por isso agitação miudinha agravada
por algo de estrutural, que começa por algo de básico, que é o País nunca ter
discutido politicamente que Forças Armadas pretendem manter e valorizar. É tema
forte para uma próxima legislatura. Como cidadão gostaria de votar em 2019 com
estes temas na agenda.
Olhemos agora para um exemplo de confusão desnecessária, alimentadora de
agitação miudinha controlável com mais juízo na governação. Convém não esquecer
e desvalorizar a ideia de que em tempos de populismo galopante (e Marcelo não dá
para barrar tudo), quanto mais claro e transparente for o discurso governamental
melhor. Neste contexto, gostaria de saber qual o interesse e vantagem de, aparentemente
de forma deliberada e não por uma falha de coerência entre diferentes quadros, a
formulação do Orçamento conter tanta matéria propícia a chicana politica e até
a ressurgimentos discursivos de uma oposição embrulhada na sua própria incapacidade.
A confusão em torno do défice que estrutura o Orçamento e do tratamento dado às
cativações não beneficia ninguém. É o oposto de um discurso governamental claro
e transparente, o tipo de discurso que as democracias precisam no difícil momento
que atravessamos. Mário Centeno tem que perceber que não fala apenas para deputados,
por mais iletrados e ignorantes que alguns possam ser nas matérias que discutem.
A discussão do Orçamento tem uma grande visibilidade no país, aliás na medida
da relevância desproporcionada que o Orçamento tem face à discussão de temas
mais estratégicos. Por isso, a confusão gerada em torno do défice com a UTAO e
em certa medida a Comissão Europeia não é benéfica para ninguém, embora pareça que
o ministro Centeno adora chamar burros aos deputados. Anda toda a gente
preocupada, ou pelo finge que anda, com o alheamento dos cidadãos da política
quotidiana. A contradição está em que se trata de caldo que políticos e governantes
gostam de cozinhar a todo o momento.
Tempo para afrontamento das questões efetivamente estruturais e mais juízo
na governação é o que se pede nesta altura de agitação miudinha. E atenção às
Europeias dada a sua relevância política.
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