(Estarei hoje no salão Nobre da Câmara Municipal, em Matosinhos, a apresentar
uma proposta de reposicionamento do concelho na economia do Mar e a moderar um
painel sobre os ativos de investigação para a economia azul. Uma rara oportunidade de combinar a dimensão profissional
com a afetiva, pois cresci com uma forte identidade familiar com o concelho e
nele ainda trabalho)
Já lá vão alguns anos, creio que antes da crise de 2008 e suas sequelas
para o país, que coordenei um trabalho sobre a localização do chamado polo do
Mar da Universidade do Porto em Matosinhos. Essa localização não é propriamente
canónica pois envolve na parte sul do porto de Leixões a localização no já célebre
Terminal de Cruzeiros do CIIMAR, um importante laboratório associado nas ciências
marinhas, e na parte norte das antigas instalações da APDL de atividades de
incubação UPTEC no âmbito a economia do Mar e do projeto TEC4SEA liderado pelo
INESC TEC que cobre as atividades de robótica marinha e de exploração do oceano
profundo.
Mais recentemente, foi-nos solicitado pela Câmara Municipal de Matosinhos algum
trabalho de pensamento estratégico sobre o reposicionamento de Matosinhos no âmbito
da chamada economia do Mar ou economia azul (Blue Economy). É esse material de reflexão e proposta estratégicas que
apresentarei hoje, numa conferência MATOSINHOS, MAR DE OPORTUNIDADES, promovida
pela Câmara Municipal que aparentemente representa o arranque do tal novo
posicionamento ambicionado.
A matéria fascina-me, curiosamente não sendo eu um grande praticante das
coisas marinhas (nado canhestramente e mal), a não ser o deleite de uma boa
caminhada pelo nosso paraíso costeiro (apesar do LESLIE) e pelas delícias gastronómicas
do bom peixe, sobretudo no SALTA O MURO, o tal restaurante que embora não frequente
todos os dias me oferece a sensação de ser bem recebido como se fosse um
cliente diário. O fascínio resulta da grande valia da investigação científica que
o mar tem suscitado a norte e da experiência afetiva e pessoal que Matosinhos
sempre me proporciona, por razões familiares e de uma juventude que se cruzou
fortemente com esta terra e obviamente com o mar, nos tempos em que as férias
eram férias pela sua duração.
O interesse do município em reposicionar-se no âmbito da economia do Mar,
por mais interrogações e frustrações que ela nos proporcione, dada a intermitência
da vontade política de ir além dos documentos, é inteligente. Como direi hoje à
tarde, tradição e localização não bastam para um posicionamento competitivo de
Matosinhos nestas matérias. Há prioridades europeias a que é importante dar
resposta, apesar de todas as intermitências a nível político nacional. Vários
municípios costeiros estão a posicionar-se. E sobretudo porque são identificáveis
dinâmicas privadas, empresariais e da sociedade civil, entre as quais a própria
dinâmica do cluster do Mar, a que o
meu amigo Rui Azevedo tem dado um relevante contributo de inteligência e persistência.
Ora, todas estas dinâmicas impactam de um modo ou outro o território de
Matosinhos.
A proposta de reposicionamento sintetizada no esquema gráfico acima
reproduzido foca-se na valorização integrada de quatro ativos de Matosinhos,
que combinam tradição e modernidade, fertilizando-se mutuamente.
Os ativos específicos são:
- O polo de atividades de investigação e transferência de conhecimento e tecnologia;
- O Porto de Leixões e as atividades logísticas associadas;
- A modernização e inovação da pesca e da indústria conserveira;
- As novas procuras de turismo e lazer.
Este core é dinâmico e ganha-se
ou perde-se do ponto de vista das combinações virtuosas que é necessário
construir no seu interior. E também a gestão política de possíveis contradições
que as trajetórias de desenvolvimento.
Três exemplos ajudam a esclarecer este meu ponto.
Existe hoje um possível conflito, reitero possível e carecendo de
investigação mais aprofundada, entre o prolongamento do molhe sul do porto de
Leixões para melhor proteção e margem de manobra no seu interior e as
atividades de ensino do surf na praia de Matosinhos. Surgiram argumentos de que
o prolongamento do molhe pode alterar as condições do mar consideradas ótimas
para o ensino do surf e estas assumem já um protagonismo relevante na orientação
do concelho para os desportos marinhos.
Um outro exemplo radica no possível conflito que pode existir entre a
estratégia da APDL para valorizar o seu modelo de negócio portuário e as
necessidades de crescimento das atividades de I&D localizadas no porto de
Leixões: o CIIMAR cuja localização no Terminal de Cruzeiros será eventualmente
impactado pela eventual privatização da gestão do Terminal; as atividades mais
diretamente ligadas à robótica marinha e à engenharia oceânica que necessitam,
a norte, frente de mar para as suas atividades de teste e exploração de protótipos
e que as podem ver obstaculizadas pelas necessidades de operação eficiente do
próprio porto.
Finalmente, face às fortíssimas necessidades de espaço para a contentorização,
o Porto de Leixões poderá eventualmente equacionar relocalizações possíveis
para o porto de pesca, com impacto nesta opção de reposicionamento e obviamente
com impactos urbanos consideráveis.
Por tudo isto, no reposicionamento proposto (ver esquema apresentado) é
necessário operacionalizar um conjunto de dimensões transversais de intervenção,
das quais me permito destacar a que para mim é a mais importante de todas: o
município tem de liderar a governança do que poderíamos designar de estratégia
de eficiência coletiva local, com as seguintes dimensões: (i) ajudar a Universidade
do Porto a federar os seus próprios recursos em matéria de economia azul e projetar
a sua influência plena no polo do Mar; (ii) a parceria estratégica com a APDL,
com uma dupla vertente: o polo do Mar da UP e a relação município-Porto de Leixões;
(iii) o próprio modelo organizativo do município para assumir essa responsabilidade
de liderança; (iv) o protagonismo ativo do Município na dinamização do cluster do Mar, representado pelas atividades
do Fórum Oceano localizado também no polo do Mar; (v) a criação de um Conselho
Municipal para a Monitorização da própria estratégia de reposicionamento.
A Presidente Luísa Salgueiro e o vice-presidente Eduardo Pinheiro têm muito
em que aplicar a sua energia e inteligência política.
Apareçam.
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