(https://www.youtube.com/watch?v=X-kRgs3H7so)
(Cecília Bartoli, a minha mezzosoprano de coração, passou por Madrid para
cantar uma das suas preciosidades, a Cenerentola de Rossini, em que ela é uma
especialista. Mas o que me interessou foi
a sua convicta afirmação ao El País de que num povo de emigração como o
italiano ter um Salvini pela frente, xenófobo quanto baste, é uma trágica aberração
da doença humana.)
Houve tempos em que tinha vida e força para frequentar com alguma regularidade
a Gulbenkian musical (nestes últimos tempos só para momentos excecionais como o
será ver finalmente em palco a minha diva do piano Martha Argerich, já tenho
bilhete). Um dos momentos mais espantosos dessa era foi ouvir Cecília Bartoli
cantar naquele auditório, emergindo como um vulcão com um vestido vermelho que
nunca mais esquecerei. O rigor e seriedade musical de Cecília são ímpares nos
nossos tempos, tal é o trabalho artesanal e de investigação que ela sempre realiza
para redescobrir e interpretar raridades musicais de outros tempos, concedendo-lhe
aquele talento divino que é o conjunto da sua voz e presença em palco. O seu
Vivaldi representa tudo isso e a todo o momento aguçámos o apetite por novas descobertas.
A Angelina de Rossini está indissociavelmente ligada ao sentido da carreira
de Cecília. Singela e sóbria como sempre, mas determinada até ao limite, Cecília
terá por certo encantado Madrid. Cá por mim fico com o fecho da sua entrevista
ao El País (link aqui), assinalando a sua passagem:
“Quando vejo o
tratamento que alguns querem dar aos imigrantes, recordo-me da minha avó. Foi
ela quem me contou desde pequena que nós italianos fomos um povo emigrante
durante a primeira metade do século XX. Por isso, se juntarmos italianos e os
seus descendentes no exterior são muito mais do que os vivem cá dentro. Como os
que chegam fugindo dos seus países para a Europa, também nós escapámos à fome,
ao conflito e à miséria. A política real, de fundo, deve fazer-se nos lugares de
onde brotam todas as razões que obrigam qualquer um a deixar o seu país para os
evitar.”
Bastaria integrar a história nas nossas cogitações para mudar radicalmente perspetivas.
Mas a história real e não inventada parece não ser preocupação dos populistas xenófobos.
Preferem construções falsas da mesma.
Sem comentários:
Enviar um comentário