(Financial Times)
(Deus meu, o mundo já não é o que era e até o nosso bom olhar para as
coisas escandinavas se vai desvanecendo, como por exemplo acontece com o grande
escândalo de dinheiro sujo que passava pela unidade do Danske Bank na Estónia. O Financial Times dedicou-lhe um BIG READ de
leitura obrigatória (link aqui)
Se alguma vez tivesse sido obrigado a viver mais para Norte, a Dinamarca
seria certamente o meu poiso. Ainda que sujeito ao eterno “bias” do visitante acidental, fui sensível à convivialidade
daqueles lugares e cidades e, não sei se isto é politicamente correto de acordo
com as orientações do #Me Too, mas o fascínio daqueles rostos femininos
encantou-me. É verdade que nunca fui burlado em matéria de cartões de crédito,
mas aconteceu uma vez e foi em Copenhaga. Talvez seja um facto simbólico dos
enviesamentos do visitante acidental.
Mas nos tempos que correm há vários sinais de que a Escandinávia já não é o
que era aos nossos olhos.
A última evidência de que “the times
they are a changin’” por terras da Escandinávia é o envolvimento até ao pescoço
do Danske Bank no que está considerado ser o maior escândalo de lavagem de dinheiro
dos últimos tempos, falando-se de cerca de 200 mil milhões de euros movimentados
a partir da unidade do banco dinamarquês na Estónia. O que não deixa de ser uma
grande ironia dos processos de transição a partir de sociedades anteriormente
sob o jugo soviético. De facto, os países bálticos como a Estónia acumularam ao
longo dos tempos uma aversão endémica ao comunismo soviético e não se cansam de
tentar marcar a diferença por todas as vias possíveis. Aliás, os países bálticos
nessa linha de orientação têm-se notabilizado por amplas liberdades e concessões
ao capitalismo mais selvagem. Mas a proximidade é tentadora e pela informação
que nos fornece o Financial Times aparentemente toda e qualquer forma menos lícita
de ganho de dinheiro no perdido no tempo país dos sovietes era lavada e
reciclada pelos balcões e contas eletrónica do banco dinamarquês. Pior ainda,
face à tentativa de encobrimento que alguns responsáveis dinamarqueses tentaram
assegurar, foi por iniciativa do Deutsche Bank, também ele beliscado pelo
assunto, que o Danske Bank foi forçado a publicitar o assunto com as
consequentes implicações de exigência de responsabilidades.
O número de clientes não residentes com contas no Danske Bank na Estónia
atingiu por volta de 2013 números impressionantes, mas o Financial Times refere
que não há qualquer indicação de que a situação seja pontual. Ou seja, em tempo
de digitalização de movimentos, a proximidade acaba por contar e de que maneira.
Aliás, na minha única visita aos países bálticos quando visitei algumas estâncias
de turismo na Estónia e na Letónia a presença dos novos multimilionários russos
e adjacentes era demasiado evidente. E esta é a ironia da história: estes países
que se sentem ameaçados pelo poderio imperial soviético, e têm razões para
isso, acabam por ser o depósito de tudo quanto é lavagem de dinheiro proveniente
dos distúrbios financeiros da desregulamentação. A história tem destas coisas. Mas
são membros da União Europeia, votam e influenciam os rumos da mesma, para
termos em devida conta.
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