quinta-feira, 4 de outubro de 2018

DIRTY, DIRTY, DIRTY

(Financial Times) 


(Deus meu, o mundo já não é o que era e até o nosso bom olhar para as coisas escandinavas se vai desvanecendo, como por exemplo acontece com o grande escândalo de dinheiro sujo que passava pela unidade do Danske Bank na Estónia. O Financial Times dedicou-lhe um BIG READ de leitura obrigatória (link aqui)

Se alguma vez tivesse sido obrigado a viver mais para Norte, a Dinamarca seria certamente o meu poiso. Ainda que sujeito ao eterno “bias” do visitante acidental, fui sensível à convivialidade daqueles lugares e cidades e, não sei se isto é politicamente correto de acordo com as orientações do #Me Too, mas o fascínio daqueles rostos femininos encantou-me. É verdade que nunca fui burlado em matéria de cartões de crédito, mas aconteceu uma vez e foi em Copenhaga. Talvez seja um facto simbólico dos enviesamentos do visitante acidental.

Mas nos tempos que correm há vários sinais de que a Escandinávia já não é o que era aos nossos olhos.

A última evidência de que “the times they are a changin’” por terras da Escandinávia é o envolvimento até ao pescoço do Danske Bank no que está considerado ser o maior escândalo de lavagem de dinheiro dos últimos tempos, falando-se de cerca de 200 mil milhões de euros movimentados a partir da unidade do banco dinamarquês na Estónia. O que não deixa de ser uma grande ironia dos processos de transição a partir de sociedades anteriormente sob o jugo soviético. De facto, os países bálticos como a Estónia acumularam ao longo dos tempos uma aversão endémica ao comunismo soviético e não se cansam de tentar marcar a diferença por todas as vias possíveis. Aliás, os países bálticos nessa linha de orientação têm-se notabilizado por amplas liberdades e concessões ao capitalismo mais selvagem. Mas a proximidade é tentadora e pela informação que nos fornece o Financial Times aparentemente toda e qualquer forma menos lícita de ganho de dinheiro no perdido no tempo país dos sovietes era lavada e reciclada pelos balcões e contas eletrónica do banco dinamarquês. Pior ainda, face à tentativa de encobrimento que alguns responsáveis dinamarqueses tentaram assegurar, foi por iniciativa do Deutsche Bank, também ele beliscado pelo assunto, que o Danske Bank foi forçado a publicitar o assunto com as consequentes implicações de exigência de responsabilidades.

O número de clientes não residentes com contas no Danske Bank na Estónia atingiu por volta de 2013 números impressionantes, mas o Financial Times refere que não há qualquer indicação de que a situação seja pontual. Ou seja, em tempo de digitalização de movimentos, a proximidade acaba por contar e de que maneira. Aliás, na minha única visita aos países bálticos quando visitei algumas estâncias de turismo na Estónia e na Letónia a presença dos novos multimilionários russos e adjacentes era demasiado evidente. E esta é a ironia da história: estes países que se sentem ameaçados pelo poderio imperial soviético, e têm razões para isso, acabam por ser o depósito de tudo quanto é lavagem de dinheiro proveniente dos distúrbios financeiros da desregulamentação. A história tem destas coisas. Mas são membros da União Europeia, votam e influenciam os rumos da mesma, para termos em devida conta.

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