quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O DIABO QUE ESCOLHA



(Não, não se aplica às eleições no Brasil. Aí a escolha só pode ser a de barrar o caminho ao recuo civilizacional e simultaneamente denunciar a prepotência militante do PT, ou seja votar Haddad exigindo-lhe concessões e autocrítica. O meu alvo é o braço de ferro entre o governo italiano e a Comissão Europeia. Entendo tudo isto como uma antecâmara explosiva das eleições europeias e escasseia na CE capacidade política para gerir a situação sem criar um balão de ensaio para una subida gigantesca dos anto-europeístas.)

Não costumo estar em desacordo com o que a Teresa de Sousa escreve. Mas desta vez tenho relutância em comprar a ideia de que nenhuma das partes (governo populista e xenófobo italiano e diretório macroeconómico da CE) está efetivamente interessada em quebrar a corda para além de a esticar quanto baste. Acho mesmo que o governo italiano está claramente interessado em quebrar a corda, fazendo tudo para que Bruxelas aplique sanções e o penalize. A frente populista, xenófoba, nacionalista e anti-europeia precisa disso para circunscrever as eleições europeias a esse acontecimento. Por isso, a expressão “O diabo que escolha”. De facto, ninguém de bom senso político confia na rigidez tecnocrática da Bruxelas macroeconómica para a defender no esticar de corda com os italianos. Como obviamente se abomina o puro oportunismo político do populismo italiano, que invoca a pátria e a autonomia do país apenas para o escaqueirar ainda mais, sujeitando-o a um clima que venere o autoritarismo e os ajustes de contas.

O esticar de corda em Itália mostra bem como é estreita, estreitíssima, a margem de manobra para combater o Tratado orçamental sem ter por compagnons de route os nacionalismos mais asquerosos. A minha única dúvida neste caso é se o afrontamento italiano das instituições europeias está preparado para levar em cima com uma reação brutal dos mercados internacionais e arcar com a responsabilidade direta de uma deterioração significativa da vida dos italianos acaso essa reação dos mercados acontecer, como é provável que aconteça.

Pode ser que ao mínimo sinal do descalabro financeiro isso chegue para colocar o governo italiano numa trajetória de negociação mais colaborativa. Mas pode ser que o caos seja mesmo o objetivo e aí não será apenas o caos italiano. Todos amargaremos a dose. Por isso de mal o menos. Preferia que mesmo assim fossem os tais mercados a colocar algum travão na escalada de agressividade de Salvini e seu comparsa. Seria uma profunda ironia, tenho de reconhecer.

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