(Não, não se aplica às eleições no
Brasil. Aí a escolha só pode ser a de barrar o caminho ao recuo civilizacional
e simultaneamente denunciar a prepotência militante do PT, ou seja votar Haddad
exigindo-lhe concessões e autocrítica. O meu alvo é o braço de ferro entre o
governo italiano e a Comissão Europeia. Entendo tudo isto como uma
antecâmara explosiva das eleições europeias e escasseia na CE capacidade política
para gerir a situação sem criar um balão de ensaio para una subida gigantesca
dos anto-europeístas.)
Não costumo estar em desacordo com o que a Teresa de Sousa escreve. Mas
desta vez tenho relutância em comprar a ideia de que nenhuma das partes
(governo populista e xenófobo italiano e diretório macroeconómico da CE) está
efetivamente interessada em quebrar a corda para além de a esticar quanto
baste. Acho mesmo que o governo italiano está claramente interessado em
quebrar a corda, fazendo tudo para que Bruxelas aplique sanções e o penalize. A frente populista, xenófoba, nacionalista e anti-europeia
precisa disso para circunscrever as eleições europeias a esse acontecimento. Por
isso, a expressão “O diabo que escolha”. De facto, ninguém de bom senso político
confia na rigidez tecnocrática da Bruxelas macroeconómica para a defender no
esticar de corda com os italianos. Como obviamente se abomina o puro
oportunismo político do populismo italiano, que invoca a pátria e a autonomia
do país apenas para o escaqueirar ainda mais, sujeitando-o a um clima que
venere o autoritarismo e os ajustes de contas.
O esticar de corda em Itália mostra bem como é estreita, estreitíssima, a
margem de manobra para combater o Tratado orçamental sem ter por compagnons de route os nacionalismos
mais asquerosos. A minha única dúvida neste caso é se o afrontamento italiano
das instituições europeias está preparado para levar em cima com uma reação
brutal dos mercados internacionais e arcar com a responsabilidade direta de uma
deterioração significativa da vida dos italianos acaso essa reação dos mercados
acontecer, como é provável que aconteça.
Pode ser que ao mínimo sinal do descalabro financeiro isso chegue para colocar
o governo italiano numa trajetória de negociação mais colaborativa. Mas pode
ser que o caos seja mesmo o objetivo e aí não será apenas o caos italiano. Todos
amargaremos a dose. Por isso de mal o menos. Preferia que mesmo assim fossem os
tais mercados a colocar algum travão na escalada de agressividade de Salvini e
seu comparsa. Seria uma profunda ironia, tenho de reconhecer.
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