terça-feira, 23 de outubro de 2018

EM TEMPO DE ORÇAMENTO

(Helder Oliveira, in https://expresso.pt)

O debate económico em Portugal está pelas ruas da amargura. A culpa decorre largamente da hipersimplificação dos conceitos e dos conteúdos às mãos de um mediatismo que pretende fazer de cada macaco um especialista em economia, assim como da hipersofisticação de um cientismo improdutivo que pretende fazer de cada tema económico concreto uma matéria modelizável em termos matematicamente inacessíveis à cabeça do cidadão comum. A manifestação mais recente do que fica dito está no modo como vai sendo discutido o projeto de Orçamento de Estado para 2019, classificado oscilantemente entre expansionista, eleitoralista, orgiástico ou futurista, para só citar alguns epítetos, havendo ainda quem, pelo caminho, se refira repetitivamente a mais uma oportunidade perdida ou a mais um exercício de rigor que Bruxelas persiste em reclamar a várias vozes (agora, com o nosso Mário a fazer parte do coro). Em todo este estranho quadro, um quadro em que ninguém se mostra capaz de colocar com autoridade um ponto de ordem à mesa – Teodora tenta mas é inaudível por demais limitada em ambição, que falta faz José Silva Lopes! – e um quadro em que continuamos a passar alegremente ao lado do essencial: a dimensão estratégica, a decência de metas objetivamente trabalhadas e verdadeiramente alcançadas, o foco na arrumação efetiva do aparelho de Estado, a cada vez mais forçosa atenção à transversalidade das políticas, a imprescindível complementaridade entre a intervenção pública de âmbito nacional e o recurso aos fundos estruturais europeus, um rumo desenvolvimentista claro e firmemente prosseguido.

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