quarta-feira, 3 de outubro de 2018

PARA ONDE VAI O SISTEMA COMERCIAL MUNDIAL?



A guerra comercial entre os EUA e a China não parece ter fim à vista. Porque, na realidade, já conheceu vários rounds a sucessiva imposição de tarifas americanas sobre as importações provenientes da China, logo seguida de uma retaliação com tarifas chinesas sobre as importações provenientes dos EUA, enquanto as ameaças de que o jogo prossiga continuam a ser o pão de cada dia na boca de Trump.


Na base do problema está, contudo, uma diferença de escala brutal, designadamente se tivermos em conta que, em 2017, aquelas importações alcançaram um valor de 505,5 mil milhões de dólares, enquanto estas últimas apenas representaram 129,9 mil milhões de dólares (dito de outro modo, o saldo comercial bilateral foi de 375,6 mil milhões em favor da China). Outra diferença abissal, que diretamente decorre desta, é a que tem a ver com o peso das trocas sujeitas a tarifas no total das mesmas (um pouco menos de 40% no caso das importações americanas provenientes da China e já 85% no caso das importações chinesas provenientes dos EUA). Do que resulta, sem prejuízo da debilidade analítica de aqui não estarmos a aprofundar os níveis tarifários nem os tipos de produtos e os consequentes agentes económicos atingidos, a forma muito crítica e até claramente dubitativa com que vários analistas encaram este processo numa estrita e simplista perspetiva de defesa dos interesses americanos.

(Patrick Blower, http://www.telegraph.co.uk)

(Jeff Danziger, http://www.nytimes.com)

Dito isto, o certo é também que Trump lá vai marcando a agenda e levando alguma água ao seu moinho, como foi por estes dias o caso do acordo fechado com o Canadá (com o Mexico já o tinha conseguido em finais de agosto), originando uma nova versão do NAFTA (NAFTA 2) que alguns julgavam inalcançável mas era, isso sim, objetivamente inevitável à luz das circunstâncias concretas do relacionamento económico existente entre os três grandes países da América do Norte.


Um terceiro elemento igualmente digno de ser sublinhado é o que está encerrado nas conclusões de um muito interessante texto de Alan Beattie nas páginas do “Financial Times”. Reza assim, exprimindo a síntese essencial: “O impulso dos EUA não conduziu a um protecionismo total free-for-all. Mas, apesar de alguns esforços valorosos, as outras grandes potências comerciais têm lutado para encontrar um terreno comum suficiente no sentido de criar uma nova âncora para o sistema de comércio mundial. Até agora, apenas o relacionamento comercial dos EUA com a China foi seriamente interrompido. Mas tal situação pode bem alargar-se a outras economias que declinem aceder às exigências de Trump.” No entanto, o meu feeling é o de que não estou nada convencido de que a benignidade interpretativa de Beattie (mesmo que caldeada por algumas reservas associadas a perigos pontuais) possa vir a lograr uma efetiva prevalência sobre os riscos de caos em presença (na pior e mais dramática das hipóteses) ou de uma dominação chinesa mais estruturada e musculada (na hipótese menos má, se assim o podemos dizer)...

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