sábado, 27 de outubro de 2018

SAMBANDO OU BOLSONANDO?



(Agustin Sciammarella, http://elpais.com)

O mundo está à bica de presenciar, já amanhã, o fenómeno democraticamente inédito da eleição presidencial de um nostálgico da ditadura, racista, homofóbico e sexista num país de grande relevância e dimensão e com pergaminhos em termos de tolerância societal e resistência ao autoritarismo. Com efeito, tudo indica que Jair Bolsonaro vencerá Fernando Haddad na segunda volta das presidenciais brasileiras, apesar da recuperação a que se vai assistindo por parte deste (sobretudo desde que descolou a sua imagem de um seguidismo acéfalo em relação a Lula). Sintetizo mais abaixo neste post aqueles que considero terem sido os melhores destaques cartunizados das três semanas transcorridas desde que se conheceram os dois apurados para o segundo turno, juntando-lhes previamente as duas futuras caras do novo regime (o ideólogo económico e “Chicago boy” Paulo Guedes e o vice-presidente socialmente autoritário e militarista Hamilton Mourão).

Há quem diga que o desenlace é quase natural aos olhos da larga maioria dos cidadãos anónimos, explicando que se trata de uma escolha “óbvia” entre a valorização da segurança e do combate à corrupção, por um lado, e a defesa de uma democracia que cada vez mais encaram como a manifestação de um exercício formal e inconsequente, por outro – na linguagem simplista de um popular paranaense interrogado pelo “Le Monde”, trata-se de uma preferência pelo risco de cair do cavalo com Bolsonaro relativamente à certeza de ir ter a sua sela roubada com o PT... Pessoalmente, o que mais me choca em tudo isto são os seguintes dois aspetos: desde logo, o facto de, numa sociedade que ainda não veio renunciar ao normal funcionamento das regras de normalidade democrática construídas e afinadas ao longo de décadas e décadas de convivência coletiva, irmos assistir à eleição de um candidato que nunca se prestou a apresentar-se sequer a um mínimo de debate de ideias e projetos perante os seus adversários (neste sentido, vai-se muito para lá de uma trumpização), alguém assim será escolhido com base em soundbytes apostos em redes sociais e dominantemente assentes no ódio, no medo e na demagogia mais básica, mais caricatural e mais inconcebível; depois, o facto de uma significativa parte das elites (políticas, sociais e culturais) serem cúmplices da terrível e mentirosa chantagem em que Bolsonaro fez assentar a sua candidatura, assim confundido a responsabilidade objetiva do PT pelo atual estado de coisas com a necessidade de uma escolha que não lhes deveria causar qualquer espécie de hesitação (civilizacionalmente falando, saliento e sublinho). E ver FHC metido nesta mistela sem nome é, no mínimo, bastante doloroso!

(Bruno Aziz, http://atarde.uol.com.br)


(Hubert Aranha, Laerte Coutinho, João Montanaro e Alberto Benett, http://folha.uol.com.br/ Bruno Aziz, http://atarde.uol.com.br)

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