quinta-feira, 11 de outubro de 2018

VENTOS GALEGOS

(Xaquín Marín - Voz de Galicia)


(Tenho por hábito acompanhar periodicamente escritos galegos de gente com quem privei ocasionalmente ou com maior regularidade, seja nas coisas da cooperação com o Eixo Atlântico ou com a Comunidade de Trabalho Galiza-Norte de Portugal ou em fainas mais universitárias. Uma enorme admiração pela verticalidade desta gente, que nunca se deixou acantonar e sempre teve uma visão da Espanha multi-regional a partir da Galiza. Três registos para hoje, do truculento Barreiro-Rivas, do atento jornalista Fernando Salgado e do amigo ex-Presidente da Xunta Professor Fernando Laxe, todos com origem na Voz de Galicia)

O truculento Barreiro Rivas é um impiedoso observador e crítico dos desmandos políticos em Espanha a partir da sua Galiza. A sua última crónica é estruturada em função de questões incómodas, que muitos temem fazer. Um excerto (link aqui para o artigo):

“Haverá algo de mais tonto e cego do que rejubilar com a querela entre os galitos independentistas, quando a estabilidade do Governo, o Orçamento e toda a utopia de Sánchez dependem do PDeCat e da Esquerra Republicana? Poderemos ter confiança numa opinião publicada que há três anos critica a judicialização do processo, e convertendo Rajoy num fabricante de independentistas e que agora não se dá conta do que inquieta os independentistas, muito ou pouco, se deve à atuação da Procuradoria- Geral e a mais do que discutível gestão processual do Juiz Llarena? Será que também não aprendemos com a história para confundir a progressiva degradação da política catalã com um alívio ou uma bênção para a debilitada política do Estado? Não nos bastará sofrer com a faena que Sánchez nos ofereceu com a sua moção de censura, para que agora convidemos a Inês Arrimadas (Ciudadanos) a assumir – via moção de censura – uma Generalitat em bancarrota, que os independentistas poderiam entregar como um presente envenenado?”


O jornalista Fernando Salgado é uma VOZ galega de coerência inabalável, com espírito crítico sempre vivo e oferecendo permanentemente um contraponto ao discurso político menos rigoroso ou com traços de demagogia. Nos últimos dias, o líder galego do PP Núñes Feijoo (cuja desistência da sucessão a Rajoy ainda terá de ser compreendida à luz dos desenvolvimentos futuros) tem feito no Parlamento galego análises retrospetivas da economia galega, clamando pela sua saúde e reivindicando por isso louros pela gestão política da Xunta. Como é frequente nestas coisas, a arma dos números do emprego é determinante. Mas o espírito crítico de Fernando Salgado não dá descanso a estes aproveitamentos. Um excerto (link aqui para o artigo):

A Galiza está a criar menos emprego e, além do mais, com salários mais baixos do que o resto da Espanha. Isto também pode ser deduzido dos números da Segurança Social relativos à prestação média no ano de 2017: cada beneficiário ocupado contribuiu com 5.107 euros ao passo que cada beneficiário espanhol contribuiu com 5.368 euros. Em 2009, por cada mil ocupados na economia espanhola havia 58 galegos. Em 2015 eram 56 e em 2018 apenas 54. Goza a Galiza de boa saúde? Os dados coligidos não respondem a essa questão: apenas provam qua saúde da Galiza, qualquer que ela seja, é notavelmente mais precária do que a dos seus vizinhos”.

A bem do rigor.

Finalmente, o universitário, Investigador e também político Professor Fernando Laxe, com quem tive o prazer de explorar muitas ideias sobre a relação entre o desenvolvimento e o território. Interessado como sempre numa visão abrangente dos desafios dos territórios na nova economia global, Laxe vai curiosamente em busca dos três TTT de Richard Florida (talento, tecnologia e tolerância) para pugnar por uma política de competitividade territorial para a Galiza que vá para além dos recursos naturais e que contrarie o que ele pensa ser uma propensão para maiores níveis de desconexão e marginalização territorial que atingem a Região. Um excerto (link aqui para o artigo):

Se os processos de liberalização, desregulamentação e privatização contribuem para conceder mais vantagens à liberdade do capital, então as novas estratégias empresariais não podem ser a-territoriais. Se se pretende reforçar a competitividade global, as empresas devem alimentar-se de especificidades territoriais. O imperativo da competência obriga-as a ser mais seletivas, tanto no que respeita à sua localização como aos produtos e serviços que oferecem. Isso explica por que razão os grupos industriais têm já menos filiais e procuram aliar-se com sócios locais com os quais visam atrair e fidelizar as empresas no país de destino. Consequentemente, convém desenhar as políticas de atratividade territorial”.

Começo a ter saudades das minhas charlas e andanças por terras da Galiza. Gente boa e atenta ao mundo.

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