(Xaquín Marín - Voz de Galicia)
(Tenho por hábito acompanhar periodicamente escritos galegos de gente com
quem privei ocasionalmente ou com maior regularidade, seja nas coisas da
cooperação com o Eixo Atlântico ou com a Comunidade de Trabalho Galiza-Norte de
Portugal ou em fainas mais universitárias. Uma enorme admiração pela verticalidade desta gente, que
nunca se deixou acantonar e sempre teve uma visão da Espanha multi-regional a
partir da Galiza. Três registos para hoje, do truculento Barreiro-Rivas, do
atento jornalista Fernando Salgado e do amigo ex-Presidente da Xunta Professor Fernando
Laxe, todos com origem na Voz de Galicia)
O truculento Barreiro Rivas é um impiedoso observador e crítico dos
desmandos políticos em Espanha a partir da sua Galiza. A sua última crónica é
estruturada em função de questões incómodas, que muitos temem fazer. Um excerto
(link aqui para o artigo):
“Haverá algo de mais tonto e
cego do que rejubilar com a querela entre os galitos independentistas, quando a
estabilidade do Governo, o Orçamento e toda a utopia de Sánchez dependem do PDeCat
e da Esquerra Republicana? Poderemos ter confiança numa opinião publicada que há
três anos critica a judicialização do processo, e convertendo Rajoy num fabricante
de independentistas e que agora não se dá conta do que inquieta os independentistas,
muito ou pouco, se deve à atuação da Procuradoria- Geral e a mais do que discutível
gestão processual do Juiz Llarena? Será que também não aprendemos com a história
para confundir a progressiva degradação da política catalã com um alívio ou uma
bênção para a debilitada política do Estado? Não nos bastará sofrer com a faena
que Sánchez nos ofereceu com a sua moção de censura, para que agora convidemos a
Inês Arrimadas (Ciudadanos) a assumir – via moção de censura – uma Generalitat
em bancarrota, que os independentistas poderiam entregar como um presente envenenado?”
O jornalista Fernando Salgado é uma VOZ galega de coerência inabalável, com
espírito crítico sempre vivo e oferecendo permanentemente um contraponto ao discurso
político menos rigoroso ou com traços de demagogia. Nos últimos dias, o líder galego
do PP Núñes Feijoo (cuja desistência da sucessão a Rajoy ainda terá de ser
compreendida à luz dos desenvolvimentos futuros) tem feito no Parlamento galego
análises retrospetivas da economia galega, clamando pela sua saúde e reivindicando
por isso louros pela gestão política da Xunta. Como é frequente nestas coisas,
a arma dos números do emprego é determinante. Mas o espírito crítico de
Fernando Salgado não dá descanso a estes aproveitamentos. Um excerto (link aqui
para o artigo):
“A Galiza está a
criar menos emprego e, além do mais, com salários mais baixos do que o resto da
Espanha. Isto também pode ser deduzido dos números da Segurança Social relativos
à prestação média no ano de 2017: cada beneficiário ocupado contribuiu com 5.107
euros ao passo que cada beneficiário espanhol contribuiu com 5.368 euros. Em 2009,
por cada mil ocupados na economia espanhola havia 58 galegos. Em 2015 eram 56 e
em 2018 apenas 54. Goza a Galiza de boa saúde? Os dados coligidos não respondem
a essa questão: apenas provam qua saúde da Galiza, qualquer que ela seja, é
notavelmente mais precária do que a dos seus vizinhos”.
A bem do rigor.
Finalmente, o universitário, Investigador e também político Professor
Fernando Laxe, com quem tive o prazer de explorar muitas ideias sobre a relação
entre o desenvolvimento e o território. Interessado como sempre numa visão
abrangente dos desafios dos territórios na nova economia global, Laxe vai
curiosamente em busca dos três TTT de Richard Florida (talento, tecnologia e tolerância)
para pugnar por uma política de competitividade territorial para a Galiza que vá
para além dos recursos naturais e que contrarie o que ele pensa ser uma propensão
para maiores níveis de desconexão e marginalização territorial que atingem a
Região. Um excerto (link aqui para o artigo):
“Se os processos de
liberalização, desregulamentação e privatização contribuem para conceder mais
vantagens à liberdade do capital, então as novas estratégias empresariais não podem
ser a-territoriais. Se se pretende reforçar a competitividade global, as
empresas devem alimentar-se de especificidades territoriais. O imperativo da competência
obriga-as a ser mais seletivas, tanto no que respeita à sua localização como aos
produtos e serviços que oferecem. Isso explica por que razão os grupos industriais
têm já menos filiais e procuram aliar-se com sócios locais com os quais visam
atrair e fidelizar as empresas no país de destino. Consequentemente, convém desenhar
as políticas de atratividade territorial”.
Começo a ter saudades das minhas charlas e andanças por terras da Galiza. Gente
boa e atenta ao mundo.
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