(O mundo não se recomenda. A impunidade, a plutocracia e
a intolerância têm-se instalado e a democracia necessita de uma frente de
resistência. Mas apesar disso e de todas
as mudanças de rumo que urge imprimir à globalização, a redução da pobreza absoluta
é notável nos últimos 30 anos.)
O Banco Mundial acaba de publicar o seu relatório de 2018 sobre a evolução
da pobreza no mundo: POVERTY AND SHARED PROSPERITY 2018. Piecing Together -The
Poverty Puzzle (link aqui). Confirmando o que relatórios anteriores tinham sugerido, os números
da redução da pobreza absoluta (calculada pelo Banco Mundial através de um
limiar ou linha abaixo do qual a população é considerada como vivendo em condições
de pobreza absoluta, 1.90 dólares dia à Paridade de Poder de Compra. Essa redução
tem sido territorialmente desigual pelo mundo e mais lenta do que elementares
princípios de justiça aconselhariam. Mas são números que não podem ser
ignorados.
O quadro acima evidencia a redução global observada em termos de massa de população
e de peso na população mundial (736 milhões de almas e cerca de 10% da população
mundial). A década de 1990 a 2000 registou uma redução pouco expressiva e foi
necessário o novo milénio para acelerar a redução da massa de pobreza absoluta.
A repartição regional dos progressos observados é manifestamente desigual (ver
gráfico abaixo), com alterações significativas observadas de 1990 para 2015. A África
sub-sahariana e a Ásia do Sul passam a ser as regiões com maior peso de população
em pobreza extrema (em conjunto 85%), o que contrasta fortemente com os valores
de 1990 em que as regiões da Ásia Oriental e do Pacífico acolhiam a maior
magnitude de pobreza. No mesmo quadro é possível registar a espantosa redução
da população em situação de pobreza extrema na Ásia Oriental e Pacífico: de 987,1
milhões de pessoas para 47,2 milhões. Por mais dúvidas que possamos alimentar
sobre as condições do trabalho nesses países, a evolução é avassaladora. A África
Sub-sahariana contrasta com esse registo: é mesmo a única região em que a pobreza
extrema aumentou entre 1990 e 2015.
Em resumo e tal como o relatório nos refere, temos progressos, desigualmente
observados e concretizados a um ritmo abaixo do necessário. Os dados publicados
reportam a um período em que o chamado “backlash”
da globalização não tinha ainda a expressão dos tempos mais recentes. Apesar das
alterações de rumo de que o processo de globalização carece, seguramente que se
as tendências para a imposição do protecionismo selvagem e conduzido em função de
instrumentos de guerra económica persistirem o próximo relatório do Banco
Mundial irá trazer-nos más notícias.
Para memória futura, o Banco Mundial reporta que em 2015 a massa de pobres
no Brasil era de 6,9 milhões e a taxa de pobreza de 3,4%.
(Pinto e Chinto, Voz de Galicia)
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