Há anos em que é óbvia, por demais evidente e consensual, a escolha de uma figura do ano, de alguém que se destacou do coletivo devido a algum feito marcante ou ação exemplar. Há outros, como acontece a meu ver com este que ora termina, em que as coisas estiveram tão rotineiras, previsíveis ou até pastosas que ninguém verdadeiramente conseguiu salientar-se para fora dos limites dessa cinzenta mediania.
Percebi que o “Expresso” tivesse optado por Joana Marques Vidal e a respetiva razão de ser, num ano em que a mesma abandonou a PGR e em que foram notórios certos processos judiciais que por ela passaram, mas não me parece ainda minimamente asado que aceitemos fazer da Justiça um role model num País em que ela tanto falha e tão pouco transparente é. Outros escolherão Costa ou Marcelo, em função do privilégio que possam conceder a certos resultados objetivamente positivos decorrentes do desempenho governamental ou a determinados contributos objetivamente estabilizadores provenientes do exercício presidencial, mas quer um quer outro tiveram um ano difícil – num caso porque também pródigo em erros (próprios ou imputáveis), no outro porque eivado de excessos que podem vir a ser comprometedores em futuros próximos – e não terão assim merecido uma tão especial distinção. E poderão ainda outros ter a tentação de apontar os números associados à gestão financeira de Mário Centeno, mas o seu caminho para o défice zero é por demais sinuoso e por vezes quase anti desenvolvimentista, enquanto a sua prestação europeia se pauta por ser tudo menos assinalável.
Acresce que na Cultura, nas Empresas ou no Social também não surgiu gente a fazer uma diferença que deixasse marca de registo, embora já no Desporto sim, aí tivéssemos tido figuras que primaram por uma inquestionável e visível evidência – só que a de Sérgio Conceição no FC Porto talvez ainda seja “poucochinha” para uma eleição deste quilate e as de Bruno de Carvalho e Luís Filipe Vieira foram enormidades destituídas de qualquer elemento de referenciação pela positiva, às vezes até a raiar o pornográfico.
Perante este inabitual empatado estado de coisas, acabo por me inclinar para o povo português que, na sua resiliência surda mas enérgica, foi ajudando a levar Portugal para a frente sem se deixar apanhar nas armadilhas das demagogias perigosas que lhe vão tentando impingir em versões multivariadas. Assim consiga ele manter essa lucidez e o correspondente bom senso...
(excerto de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)
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