(excerto de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)
António Costa concluiu a sua intervenção final no debate parlamentar sobre o Orçamento de Estado para 2019 anunciando que Portugal iria em breve saldar a sua dívida junto do FMI. Uma boa malha, sem dúvida, e uma boa maneira de deixar claro o sucesso obtido pela estratégia do seu governo em matéria de compatibilização entre “devolução de rendimentos aos portugueses” e “contas certas”. Para uma tal estratégia – que, recorde-se, era a pretendida desde o início, embora contivesse outra mistura de ingredientes – muito contribuíram as já míticas cativações de Centeno, prática a princípio desconhecida da maioria dos observadores que desesperavam à procura do misterioso remédio das Finanças e, depois de este ter sido generalizadamente revelado, sucessivamente encarada como um segredo de polichinelo por parte de uns ou como uma perversidade demonstradora da tecnocrática insensibilidade do ministro por parte de outros. Pois a verdade está, como frequentemente acontece, algures a meio caminho: de facto, as cativações não são nem a fonte impeditiva de um ataque aos nossos males desenvolvimentistas nem um milagre apenas ao alcance dos mais brilhantes ou engenhosos, antes sim um instrumento útil de controlo da despesa pública a que Centeno e o seu secretário de Estado João Leão souberam recorrer com algum abuso mas com indiscutível mestria e eficácia (ver quadros acima). Sem prejuízo, sempre se podem referenciar os lados cegos e incompreensíveis de algumas opções concretas que inviabilizaram investimentos desejáveis e compagináveis, talvez as mais das vezes em resultado de uma aplicação demasiado rígida de regras gerais que, sendo estritas, não excluíam uma flexibilidade inteligente – apenas sucede que esta não está, as mais das vezes, ao alcance do atual nível de preparação e do funcionamento concreto da Administração Pública portuguesa e da maioria dos seus comandantes...
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