segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O APERTO ANDALUZ



(A política é um universo pleno de ironias. Noutro contexto, a queda abrupta do vencedor PSOE na Andaluzia teria dado jeito a Pedro Sánchez na sua rivalidade com a sua adversária interna Susana Diáz. Mas ontem, face à possibilidade de formação de um governo de direita, com apoio da extrema-direita, Sánchez tem razões para chorar sentidamente o trambolhão do PSOE, dando ou procurando o ombro de Susana. E uma vez mais se percebe que a Espanha se encontra numa profunda transformação política, cujos contornos finais estamos ainda longe de conhecer.)

As eleições regionais de ontem na Andaluzia trouxeram evidências de forte alcance para compreender o equilíbrio instável em que o PSOE se encontra, oferecendo em simultâneo mais uma evidência sobre a grande transformação que atravessa a cena política em Espanha. O que se tem passado na Catalunha e agora na Andaluzia tem mais proximidade do que aparenta, mostrando como é simultaneamente dura e complexa a transição política em Espanha.

Se havia dúvidas sobre o modo como o PSOE conservou o poder durante tanto tempo naquela região espanhola, o modo como a formação política de extrema-direita VOX ocupou vertiginosamente o vazio provocado pela perda de votos do PSOE, capitalizando essa perda e impedindo que o PP capitalizasse essa perda põe em evidência a falta de autocrítica interna por parte de Pedro Sánchez, de Susana Diáz e de todo o PSOE. É mais uma tonalidade para preencher um todo de transformações, que grassam por essa Europa fora, e que coloca os partidos socialistas e sociais-democratas na primeira frente de perda de presença eleitoral conquistada à direita e bem à direita.

Como referi no mote introdutório, noutro contexto, esta queda vertical do PSOE mais tradicional e conquistador de eleitorados por via dos apoios sociais e outras políticas de subsidiação até poderia potenciar o rejuvenescimento de ideias e práticas que o PSOE necessita para reconquistar a confiança de algum eleitorado urbano. Mas, neste caso, na precária posição de liderança de sondagens a nível nacional e de governo em que o PSOE se encontra, a possibilidade de na Andaluzia se formar uma maioria de direita, presidida pelo PP e com participação do CIUDADANOS e do VOX de Abascal pode ser vista como um terramoto político cujos tremores e sequelas podem perfeitamente chegar à Moncloa. Como tenho comentado em várias ocasiões, a surpresa pela positiva que o governo constituído por Sánchez provocou dada a sua composição e o tempo da sua formação foi rapidamente trucidada por uma série de deslizes, derivas e inconsistências dos seus membros, que mataram em muito pouco tempo a boa impressão inicial. A melhor evidência desse registo é o facto do seu ministro mais categorizado e influente, Josep Borrel, estar ele próprio a enfrentar as consequências de procedimentos algo imprevidentes e nada em linha com a robustez da sua força política.

Ora, neste contexto, em que o PSOE tem necessitado de negociar quase permanentemente com o sempre instável PODEMOS (em confronto com o PODEMOS o nosso Bloco é um poço de estabilidade), a possibilidade de formação de uma maioria de direita, PP – CIUDADANOS – VOX, com a variante desta última poder estar no governo regional ou simplesmente apoiar parlamentarmente o novo governo regional, é dinamite com rastilho de fácil transmissão. Nestas coisas de derrotas, as imagens valem por mil palavras. 
 


A desolação de Susana Diáz é bem o retrato da mais amarga das vitórias eleitorais, ou seja, a imagem de uma vitória que representa uma derrota com alcance impossível de determinar dado o efeito de arrastamento e de impulso de dinâmicas adormecidas à direita.

O que é impressionante é que quando se olha para os mapas eleitorais, o regional com províncias, o municipal com os primeiros lugares e o municipal com segundos lugares na votação não resulta óbvio a perda tão massiva de votos por parte do PSOE (quase 500.000 votos perdidos, equivalente a uma perda de 7,5 pontos percentuais e 14 deputados tragados pela direita).

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