sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

BUSINESS SCHOOLS UNDER FIRE



(O artigo que me serve de inspiração, “Why we should bulldoze the business school”, publicado no Guardian já há algum tempo e que me foi sugerido há poucos dias pelo meu amigo e sempre atento Professor Leonardo Costa, suscita uma leitura que causa alguns arrepios. Mas uma camisola confortável resolve o problema e o tema é imperdível.)

Nos últimos dias, as minhas leituras e reflexões têm sido um pouco erráticas e daí a aparente excentricidade da crónica de hoje.

Antes de mais justifica-se um aviso. Pode parecer mau gosto trazer este tema para este espaço de reflexão, quando há ainda bem pouco tempo a Porto Business School (PBS) fez 25 anos, ao que me dizem com a presença simpática de muitos dos meus amigos que estiveram mais diretamente ligados ao projeto. Longe de mim ser desmancha-prazeres, pois embora não tenha neste momento quaisquer referências sobre o seu modo de funcionamento e aspirações considero que é uma instituição que merece ser acompanhada. Longa vida por isso à PBS. Só espero que alguns dos tons mais negros que o artigo de Martin Parker (link aqui) suscita não tenham nesta BS qualquer hipótese de cultivo.

Confesso que a minha grande referência sobre esta matéria é anterior à crise de 2007-2008 a partir da qual os aspetos da ganância e da deriva do capitalismo sofreram um compreensível assalto de atenção. Em 2004, um grande senhor destas matérias da gestão e da organização, Henri Mintzberg, daqueles em que o que escreve compensa toda a cacofonia inútil que se passeia regularmente pelos campos do management, escreveu uma obra demolidora “MANAGERS NOT MBAS – A hard look at the soft practice of managing and management development”, editada em parceria pela Financial Times e pela Prentice Hall. Estou longe de saber que impacto teve essa obra demolidora na formação em gestão. Não deve ter sido simpática a reação que ela provocou na máquina endinheirada dos MBA’s. Na altura, apercebi-me que pelas bandas da FEP e das hostes da gestão ninguém praticamente tinha acusado o toque, pois ignorar as obras demolidoras é coisa que dá muito jeito.

Cerca de 14 anos mais tarde, alguém com experiência diversificada de ensino em BS escreve um artigo para um jornal credível como o Guardian, antecipando uma obra “Shut Down the Business School – What’s wrong with management education”, Pluto Press, que foi revista pelo Financial Times em 22 de junho de 2018 (link aqui).

A análise de Parker é demolidora, embora devesse ser confrontada com a necessidade de uma melhor evidência dos traços de funcionamento e de conteúdos de formação, até porque estamos a falar um universo a nível mundial que anda pelas 13.000 escolas.

O facto das BS representarem na formação avançada e executiva uma fonte apreciável de receitas, em confronto com as dificuldades de geração das mesmas por parte das universidades e outros estabelecimentos de ensino superior, sempre, com a exceção das universidades do top 10 mundial, às voltas com as condições de financiamento público, tem-lhes concedido um estatuto relativamente à parte na formação superior. Mas se é verdade que, pelo prisma da sua capacidade de geração de receitas, as BS tendem a distanciar-se das universidades em que poderiam estar inseridas, a verdade é que nos tempos mais recentes há BS a aproximarem-se de novo do ninho universitário. Esta reaproximação tem que ver com a geração de conhecimento que, regra geral, as BS não são muito pródigas a gerar, dado a baixa intensidade de investigação que nelas tende a observar-se. Para além disso, a Universidade transformou-se substancialmente em termos da sua propensão e disponibilidade para se aproximar dos meios empresariais, não só em termos de formação mas também em termos de investigação.

Os argumentos de Parker são demolidores sobretudo do ponto de vista dos gestores que estarão a ser formados, não só em termos técnicos, mas também em termos de modelos de comportamento e de sistemas de valores que estão a ser lançados para o mercado da competição. Estamos de novo num período em que se discute a base moral do capitalismo, tamanha é a deceção que certos comportamentos empresariais estão a provocar em visões mais abrangentes do capitalismo e da sua capacidade de se reinventar. Vale a pena citar: “O tipo de mundo que está a ser produzido pelo “market managerialism” que a business school vende não é muito agradável. É uma espécie de utopia para os ricos e poderosos, um grupo ao qual os alunos são encorajados a juntar-se, mas esse privilégio é adquirido a um custo elevado, com efeitos de catástrofe ambiental, recursos de guerras e migrações forçadas, desigualdade no interior e entre países, estímulo do hiperconsumo assim como práticas persistentemente antidemocráticas em ação.”

Parker invoca um inquérito realizado nos EUA (no artigo do Guardian a fonte não é identificada), onde as BS mais se disseminaram, que comparou experimentalmente estudantes de MBA com indivíduos presos em prisões de baixa segurança, o qual concluiu que os reclusos tinham um padrão ético mais consistente. E outro inquérito citado mostrava que a probabilidade de cometer um crime empresarial aumentava com a frequência de um MBA ou de serviço militar. Parker distancia-se de interpretações demasiado seguidistas destes exercícios de inquirição, mas lá vai recordando uma afirmação que cosntou de um editorial de 2009 do Economist, dirigido às BS, e que ficou célebre nos meios da pós-graduação: “Não podem reivindicar que a vossa missão seja a de educar os líderes que fazem a diferença para o mundo e depois lavar as mãos quando os vossos alunos se diferenciam por práticas pouco recomendáveis.”

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