domingo, 30 de dezembro de 2018

O ACONTECIMENTO NACIONAL DO ANO

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

Poderá parecer pessimismo em excesso ou, pelo menos, contra a corrente. Mas 2018 poderá ficar na nossa história recente como o ano em que, depois de termos conseguido dar a volta ao texto do derrotismo austeritário e do liberalismo mal assimilado, fomos também evidenciando que somos ainda um país pobre e com problemas (como, aliás, veio sublinhar por outras palavras o primeiro-ministro na sua mensagem de Natal). Um país em que a falência do Estado está sempre ao virar da esquina de um qualquer aparente acaso (e o desastre de Borba foi uma situação absolutamente paradigmática), em que a debilidade institucional emerge de todos os lados (e o caso dos deputados do PSD foi apenas um exemplo anedótico disso mesmo) e em que o populismo espreita cada vez mais perigosamente à espera de que surja a sua real oportunidade nacional (e a invasão de Alcochete e tudo o que se lhe seguiu ali para os lados de Alvalade foi uma manifestação quase dantesca de mau gosto não premiado nessa perspetiva). No meio disto tudo, as armas de Tancos e a correspondente demissão do ministro da Defesa, os emails e quejandos provindos dos lados do Estádio da Luz ou a avalanche de greves em final de ano (enfermeiros, professores, estivadores, etc.) acabaram por ser fait-divers que dificilmente passarão à história numa ótica de médio prazo. Tal como, em sentido contrário, os bons resultados económico-financeiros do País, a aprovação do quarto orçamento da “Geringonça” ou alguns destaques empresariais (entre os quais os chamados “unicórnios portugueses”, ainda a confirmar em toda a sua plenitude). Voltando a Borba, e para terminar, cito Ana Sá Lopes no seu editorial de hoje no “Público”: “A descentralização [mesmo aos solavancos, acrescento eu] é uma coisa boa, desde que não ponha em causa a segurança dos cidadãos”.

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

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