Encontrei por estes dias nas páginas do “Le Monde” um artigo do meu principal mestre parisiense, Michel Aglietta. Aos 80 anos, o académico e investigador francês que marcou uma época enquanto expoente da “Escola da Regulação” continua lúcido e assertivo, na linha do que sempre fez a atratividade do seu pensamento e o seu profundo brilhantismo e rigor analítico. Este texto (“Transformer le capitalisme est une nécessité vitale”), escrito a pretexto do desafio que lhe foi lançado para que fornecesse aos leitores pistas com vista à compreensão do movimento dos coletes amarelos, trouxe-me especialmente à memória uma sua obra menos citada (“Les Métamorphoses de la Société Salariale: La France en Projet”), que escreveu em 1984 em coautoria com o seu amigo Anton Brender – e onde se explicava detalhadamente porque se deveria entender a “sociedade salarial” como o horizonte incontornável da nossa época. As imagens deste post serão talvez pouco canónicas e, sobretudo, de menos perfeita legibilidade, mas assim teve de ser para juntar em cada uma delas a riqueza de um diagnóstico em cinco parágrafos que prolonga e atualiza aquele conceito – ao contrapor “a exigência de um desenvolvimento inclusivo e durável” à “causa histórica essencial desta dinâmica divergente”, a acumulação capitalista – e quatro parágrafos contendo algumas das linhas programáticas transformadoras que dele decorrem no sentido de uma “transformação ‘progressista’ das estruturas do capitalismo”, quer alertando para as mudanças climáticas como “um potencial de destruição da civilização”, quer recorrendo à pujante ideia de um “catastrofismo esclarecido” (enquanto “instrumento de escolha social para o tempo das roturas e das incertezas”), quer convocando “uma forte implicação do político e uma adesão dos cidadãos” com vista a uma “planificação do tempo que os dirigentes políticos e económicos são incapazes de conduzir sob a dominância do capitalismo financiarizado” e a uma democracia participativa que “só mobilizará os cidadãos associada a um princípio de justiça para democratizar a riqueza”. Aqui fica, pois, um retorno a Aglietta, para devida consideração dos que persistem na procura de entendimentos sólidos e caminhos viáveis.
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