A “Quadratura do Círculo” tem andado desinteressante. Num quadro em que o seu animador mais criativo, José Pacheco Pereira (JPP), não se tem apresentado especialmente bem de há alguns programas para cá. Pois bem, ontem redimiu-se e veio pôr em praça pública reflexões essenciais quanto a um “monstro” que, crescendo de modo nem sempre percetível, não deixa de ameaçar os pilares estruturadores da nossa sociedade democrática. Cito: “Está toda a gente inesperadamente a alimentar o monstro. O monstro ainda não tem cabeça. Tem pretendentes a cabeça, mas ainda não tem cabeça. Mas o monstro está a ser alimentado (...). Vamos sair daqui da SIC, vamos subir esta rua, vamos virar à esquerda para ir para a estrada – faz ideia da quantidade de coisas que eu posso escrever sobre falhanços do Estado neste pequeno trajeto? As pessoas onde é que pensam que vivem, na Suíça? As pessoas não vivem na Suíça, vivem em Portugal, que é um país com uma Administração Pública clientelar, é um país com uma governação que oscila entre o oito e o oitenta, é um país em que os cortes de investimento no setor público começaram nos anos do ajustamento de forma dramática. (...) Eu chamei várias vezes a atenção de que isto iria rebentar numa determinada altura, e rebenta também porque o Governo continua a mesma política que foi seguida pela Troika. Portanto, em que país é que as pessoas vivem? (...) Agora, transformar isto num discurso político nós e eles – que é o que toda a gente está a fazer – é a base social e política do populismo. E isso é perigoso. As pessoas têm de compreender que, em democracia, os mecanismos de funcionamento são de outra natureza. E se quem participa desses mecanismos não os defende e não sabe a distinção entre uma coisa e outra...”
E mais adiante: “Porque o Presidente da República interfere na governação todos os dias e o Presidente da República não é capaz de manter uma distinção clara entre o exercício das suas funções e um permanente meta-discurso sobre a governação. E isso é completamente pernicioso para o País e já é pernicioso há muito tempo. (...) Os órgãos de soberania, particularmente a Assembleia da República está de rastos. E, portanto, parece que defendê-la é defender uma instituição que tem toneladas de culpa em cima. Mas a verdade é que, do ponto de vista democrático, eles é que têm o direito de definir quais são as regras, e não os senhores magistrados do Ministério Público. Mesmo que a Assembleia se tenha, por sua própria responsabilidade e por sua própria culpa, enterrado em procedimentos, em processos, em falta de controlo, em falta de dignidade e em falta de honestidade de uma forma completa.”
Assim deixou JPP devidamente pronunciadas algumas verdades nuas e cruas, abrindo espaço a uma desejável consciencialização de um problema que anda por aí a pairar sem conseguir a necessária interlocução responsável junto de quem de direito. Porque, e como bem disse JPP durante o programa, o risco de um populismo português não é pequeno e o “monstro” está à espreita da oportunidade desconhecida que o faça soltar-se e ganhar as asas destrutivas que nele germinam...
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