(Não sou propriamente um homem religioso. O que não me
impede de apreciar as crónicas de José Tolentino Mendonça, cujo culto de sensibilidade
e tolerância me impressiona. A sua crónica na revista do Expresso desta semana traz-nos um Natal diferente
e como a data se aproxima achei que era uma boa forma de marcar o dia.)
Com a sua vastíssima cultura e sabedoria, Tolentino Mendonça traz-nos ecos
da correspondência de Natal entre o poeta Rainer Maria Rilke (andarilho pelo
mundo) e a sua mãe Sofia Rilke residente em Praga. Mendonça vê nessa correspondência
o que ele identifica como sendo um desenvolvimento literário da solidão que o
Natal nos desperta e que ele considera como não suficientemente explorada: “Há uma desaceleração interior que, por desconfortável que
possa ser, constitui uma oportunidade para entrar dentro do próprio coração.”
Para um não crente, essa sensação de vazio que por vezes nos assola nos ruídos
das grandes reuniões familiares e na multiplicação dos presentes é mais a
possibilidade de alguma introspeção sobre o que fazemos por estas bandas e não a
descoberta do dom que um crente reconheceria. É uma sensação de vazio muito
passageira, quase instantânea, que rapidamente é preenchida pela perceção da
felicidade que brota dos olhos dos mais pequenos.
A crónica de Tolentino Mendonça traz-nos a sensibilidade de uma outra interpretação
do Natal e deve ser lida enquanto tal.
Enquanto reflito sobre ela, a pujança da Grande, Nona para alguns e Inacabada
para outros, de Schubert pela Filarmónica de Viena conduzida por John Elliot Gardiner,
resolve-me o problema e ultrapassa toda a possível ponta depressiva que possa
ter circulado por aqui.
É provável que ainda escreva antes da ceia de 24, mas à cautela aqui fica
um Feliz Natal para todos os que acompanham este humilde espaço de reflexão
(por vezes de introspeção). Quanto a 2019, haveremos de falar dele.
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