(Os arquivos de Brad DeLOng são uma preciosidade. Sempre
que o economista de Berkeley abre o seu baú digital é seguramente algo de
importante que emerge. Este tesourinho é uma boa oportunidade de dar cabo do juízo aos libertários
portugueses, muito hayekianos, mas sempre prontos a recolher indefesos um
abrigo público, pois não aguentam um dia que seja na selvajaria do mercado que
tanto apreciam.)
Este tesourinho data de julho de 2013 e respeita a uma controvérsia que então
se gerou sobre se efetivamente Margaret Thacher tinha ou não recebido uma carta
de Hayek, à qual Thatcher respondeu nos termos abaixo reproduzidos, com a tradução
imperfeita de alguém que se considera incapaz de verter para português a prosa
de uma senhora com tais pergaminhos:
“Meu
caro Professor Hayek
Agradeço a
sua carta de 5 de fevereiro. Fiquei muito feliz por saber que poderá estar
presente no jantar tão pensadamente organizado por Walter Salomon. Não foi apenas
para mim um grande prazer, mas foi como sempre instrutivo e retribuidor ouvir as
suas perspetivas sobre as grandes questões do nosso tempo.
Estive atenta
ao êxito notável da economia chilena em reduzir substancialmente o peso da
despesa governamental ao longo da década de 70. A evolução do Socialismo de
Allende para uma economia capitalista assente na livre empresa observada nos
anos 80 é um exemplo impressionante de reforma económica a partir da qual podemos
aprender muitas lições.
Todavia,
estou segura que concordará comigo, na Grã-Bretanha com as nossas instituições
democráticas e a necessidade de um elevado grau de consentimento, algumas das medidas
adotadas no Chile são completamente
inaceitáveis. A nossa reforma deve ser feita em conformidade com as nossas
tradições e a nossa Constituição. Por vezes, o processo pode parecer penosamente
lento. Mas estou certa que concretizaremos as nossas reformas à nossa maneira e
no nosso próprio tempo. Serão então duradouras.”
Digam lá sinceramente se isto não é uma verdadeira preciosidade. Ou seja,
meus caros hayekianos, a vossa madre e senhora dos tempos modernos, na qual viram
uma réstia de esperança para concretizar as vossas ideias, o que diz nesta
carta é que reformas pró-business e não apenas pró-mercado com poderes ditatoriais
e sanguinários a suportá-las não se recomendam para países civilizados em que
as instituições e as democracias contam.
Assim, se já sabíamos que as tentações liquidacionistas de Hayek nas recessões
eram demasiado evidentes, encolhendo os ombros perante a penosidade dos
ajustamentos, a carta de Thatcher mostra também que as reformas pró-business
exigem para se poderem aguentar e dar resultados contextos políticos não
recomendáveis.
Para memória futura de observadores socialmente atentos.
Os arquivos de DeLong são um bem público precioso.
Fantástica carta de facto!
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