domingo, 2 de dezembro de 2018

MONTALBÁN



(A capa do Babelia no El País fala do regresso ao futuro de Manuel Vázquez Montalbán, o que quer dizer que 15 anos depois da sua morte, a sua imponente figura e o seu talento diversificado teimam em pairar sobre uma sociedade espanhola e catalã que precisa de referenciais como a água que bebe ou o ar que respira. Já o tinha referido.)

O Babelia é um dos suplementos culturais que resiste à usura dos tempos. É uma forma expedita de acompanhar o debate cultural em Espanha e também na América Latina, dada a difusão que o El País conta nos países de expressão castelhana. Nem sempre todos os sábados tenho a ele acesso, porque a geografia do fim-de-semana coloca-me por vezes longe dos pontos de venda. Nem todos têm o privilégio de estar perto de uma tabacaria como a Gomes em Caminha, onde aí tenho sempre a certeza de o encontrar, se as máquinas da distribuição não pregarem partidas.

Pois o Babelia desta semana dedica algumas páginas ao que o jornal considera ser o regresso ao futuro da obra de Vázquez Montalbán (link para o artigo de Carles Geli). Um vasto movimento de reedições e de republicações de algumas das suas novelas e romances mais conhecidos (com Galíndez à cabeça) e o ressurgimento do detetive e gastrónomo Pepe Carvalho anuncia que 15 anos depois a Espanha não esquece uma das personagens mais diversificadas da cena cultural espanhola, catalão de quatro costados, nascido no mítico bairro do Raval e cuja inteligência nos falta para ajudar a compreender e buscar pistas para ultrapassar o beco sem saída em que os ensandecidos Puigdemont e Torras colocaram o “procès”.

Catalão convicto, Montalbán sempre nos deliciou com a sua crítica contundente do “pujolismo” e dos seus contornos mais ocultos, recorde-se muito antes da família Pujol se ver envolvida em processos judiciais reveladores da trama em que estava envolvida sempre com a proteção do Catalunha sempre. Por isso, abre-se todo um trabalho de exegese da sua diversificada obra de escritor, jornalista, gastrónomo, cronista desportivo no sentido de tentar perceber o que seria hoje o seu pensamento acerca do lio em que a questão catalã se envolveu.

Ou se quisermos escapar a esse exercício de pura curiosidade, talvez valha antes a pena projetarmo-nos apenas na Catalunha e na Barcelona datada das obras de Montalbán, designadamente para entendermos as múltiplas dimensões da transição democrática espanhola que ele tão sabiamente interpretava. E se preferirmos algo de intemporal, então concentremo-nos no Montalbán /Pepe Carvalho gastrónomo, com aquelas descrições multissensoriais que estimulavam todos os sentidos.

Montalbán viverá para sempre enquanto as nossas recordações não se dissiparem.

(Atualizado em 05.12.2018)

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