(A capa do Babelia no El País fala do regresso ao futuro
de Manuel Vázquez Montalbán, o que quer dizer que 15 anos depois da sua morte,
a sua imponente figura e o seu talento diversificado teimam em pairar sobre uma
sociedade espanhola e catalã que precisa de referenciais como a água que bebe
ou o ar que respira. Já o tinha referido.)
O Babelia é um dos suplementos culturais que resiste à usura dos tempos. É
uma forma expedita de acompanhar o debate cultural em Espanha e também na América
Latina, dada a difusão que o El País conta nos países de expressão castelhana. Nem
sempre todos os sábados tenho a ele acesso, porque a geografia do fim-de-semana
coloca-me por vezes longe dos pontos de venda. Nem todos têm o privilégio de
estar perto de uma tabacaria como a Gomes em Caminha, onde aí tenho sempre a
certeza de o encontrar, se as máquinas da distribuição não pregarem partidas.
Pois o Babelia desta semana dedica algumas páginas ao que o jornal
considera ser o regresso ao futuro da obra de Vázquez Montalbán (link para o artigo de Carles Geli). Um vasto
movimento de reedições e de republicações de algumas das suas novelas e
romances mais conhecidos (com Galíndez à cabeça) e o ressurgimento do detetive
e gastrónomo Pepe Carvalho anuncia que 15 anos depois a Espanha não esquece uma
das personagens mais diversificadas da cena cultural espanhola, catalão de quatro
costados, nascido no mítico bairro do Raval e cuja inteligência nos falta para
ajudar a compreender e buscar pistas para ultrapassar o beco sem saída em que os
ensandecidos Puigdemont e Torras colocaram o “procès”.
Catalão convicto, Montalbán sempre nos deliciou com a sua crítica
contundente do “pujolismo” e dos seus contornos mais ocultos, recorde-se muito
antes da família Pujol se ver envolvida em processos judiciais reveladores da
trama em que estava envolvida sempre com a proteção do Catalunha sempre. Por
isso, abre-se todo um trabalho de exegese da sua diversificada obra de escritor,
jornalista, gastrónomo, cronista desportivo no sentido de tentar perceber o que
seria hoje o seu pensamento acerca do lio em que a questão catalã se envolveu.
Ou se quisermos escapar a esse exercício de pura curiosidade, talvez valha
antes a pena projetarmo-nos apenas na Catalunha e na Barcelona datada das obras
de Montalbán, designadamente para entendermos as múltiplas dimensões da transição
democrática espanhola que ele tão sabiamente interpretava. E se preferirmos algo
de intemporal, então concentremo-nos no Montalbán /Pepe Carvalho gastrónomo,
com aquelas descrições multissensoriais que estimulavam todos os sentidos.
Montalbán viverá para sempre enquanto as nossas recordações não se
dissiparem.
(Atualizado em 05.12.2018)
(Atualizado em 05.12.2018)
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