Chegou o mês em que se votará por toda a Europa para eleger o respetivo Parlamento (PE). Por cá, uns aquecem os motores e outros já estão em plena campanha, embora de temas europeus propriamente ditos não haja praticamente rasto. Passando os olhos pelos cartazes que enchem as nossas cidades, a vergonha desta ausência de debate político tem culpas bastante generalizadas – seja por total desligamento entre a mensagem transmitida e o que está em causa no escrutínio de 25 de maio, seja porque a respetiva relação é secundária ou mesmo terciária e o que se visa comunicar são posições de mera e estrita oportunidade conjuntural.
Procurei fazer uma leitura algo mais organizada e conclui sumariamente o seguinte: (i) que a CDU, ou seja, o PCP é a única força política que se situa adequadamente no quadro que está em causa e a única que nele anuncia claramente ao que vem – querem eles mais força, logo mais votos, para poderem “defender o povo e o País” no PE, designadamente porque consideram que “basta de imposições da União Europeia”; (ii) que há comunicações não completamente focadas mas, ainda assim, aceitáveis por não fugirem de todo do que lhes é dado cumprirem – casos do PS (claro que “Somos Europa”, embora a ideia de “mais emprego, mais igualdade, contas certas” seja uma quase exclusiva resultante de políticas nacionais e pouco tenha a ver com “um novo contrato social para a Europa”), do PSD (sublinhando o equilíbrio e experiência da equipa candidata) e do BE (inclusivo e pouco declarativo como no momento lhe cabe), deixando ainda de parte excessos de ruído demagógico como os patentes naquela presunção de Paulo Rangel quanto a “marcar a diferença em Portugal e na Europa” (alguém fez uma análise do que este eurodeputado defendeu publicamente em relação a Portugal durante o período da Troika?); (iii) que o CDS-PP, leia-se Nuno Melo, se apresenta também com referenciais europeus, mas com a importante diferença de que aqueles “a Europa é aqui” e “aproveitar bem o dinheiro da Europa” não podem deixar de nos fazer sorrir pelo branqueamento que fazem de um eurodeputado que anda por Bruxelas há dez anos e ainda não deixou por lá sequer uma marca com algum significado ou de uma ex-ministra que não foi notoriamente exemplar na gestão dos fundos europeus que teve à sua guarda; (iv) que só podemos gargalhar perante o apagamento de um cidadão que era tido por conhecer as matérias europeias e que agora se propõe vir até nós como o protagonista de um misterioso “para ganhar uma Europa nova” (agradecidos, caro Paulo!), isto já depois de Santana ter lançado o seu “Aliança” a defender “um País às Direitas” com a ajuda de uns nórdicos e de, logo depois, ter recorrido à irmão de Rui Moreira para corrigir o tiro e se atirar com “caras novas” contra o plástico descartável; (v) que há um tal Marinho e Pinho, um absolutamente ilustre desconhecido em Bruxelas e Estrasburgo que não queria mas lá se deixou convencer a recandidatar-se, nada menos do que como “a voz em português que faz a diferença no Parlamento Europeu” – aqui a palavra certa é só uma, e essa é lata (adjetivável por acréscimo como pura e distinta, bem entendido); (vi) que há dois novos partidos com algum fulgor mediático e nas redes e cuja presença assenta em ambições de protagonismo pessoal quiçá próximas, mas que não deixam de se constituir em projetos desigualmente avaliáveis – um porque apenas enganoso e manipulador (o “Chega!” ou “Basta!” de um tal comentarista benfiquista chamado André Ventura), o outro porque ideologicamente assente em causas (boas ou más é coisa diversa e aquele “contribuintes de todo o País, uni-vos” corresponde a um adereço secundário de mau gosto, e esse é o “Iniciativa Liberal” de Ricardo Arroja e seus parceiros). Em suma: deste todo não parece que vamos ter um grande cozinhado em termos de capacitação para uma bem necessária defesa das hostes nacionais nos difíceis anos que aí vêm...
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