segunda-feira, 20 de maio de 2019

VISTA DE OUTRA PERSPETIVA

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

Vamos, então, à prometida forma alternativa de encarar as eleições europeias. Uma forma que, a encontrar provimento, tornaria a escolha do cidadão numa das mais simples de sempre. Sublinhe-se que a dita parte de uma perspetiva que só na aparência se apresenta como centralmente nacional, sendo que, na sua verdadeira essência, se revela como eminentemente europeia.

Vejamos então os principais ingredientes: (i) a situação europeia de largo impasse em que atualmente vivemos pode parecer estável mas não é sustentável (cito aqui um recente discurso que ouvi ao governador do Banco de Portugal), sendo que já não nos restará muito mais tempo para forçar decisões primordiais que continuam a ser desesperantemente adiadas sine die; (ii) existem três grandes grupos políticos no Parlamento Europeu – o PPE (conservadores, onde estão sediados os nossos PSD e CDS), o S&D (a casa do nosso PS) e o ALDE (os liberais, sem expressão em Portugal, embora tenha por lá andado sem saber porquê nem como o nosso Marinho e Pinto) –, grupos estes que classificaria de “europeístas”; (iii) o Parlamento Europeu (PE) não é negligenciável no quadro da relação de forças institucionais na União, marcada esta como está por um peso excessivo da intergovernamentalidade e do Conselho e sobretudo na medida em que detém poderes que lhe permitem impedir determinados caminhos ou criar ruído limitador de outros, mas importará também assumir que a sua forma de organização e funcionamento não favorecem intervenções institucionalmente desestruturadas ou irrelevantes por demasiado pontuais e desligadas de algum peso específico a nível dos respetivos comités (situação que se agrava pelo facto de os nossos outros dois partidos representados no PE estarem inseridos na GUE, um agrupamento antieuropeísta e dominado pelas linhas comunistas mais ortodoxas, fazendo com que eventuais boas intenções do BE sempre fiquem à porta nas questões que fazem a diferença); (iv) neste mesmo contexto, e tomando como ponto decisivo de perceção o que foi o período da crise mundial e respetivos reflexos na Europa em termos de crise das dívidas soberanas, sempre teremos de reconhecer que a maioria do PE (e do restante establishment europeu) foi controlada por defensores puros e duros da austeridade e da desregulamentação dos mercados, tendo contribuído objetiva e fortemente para um tratamento inqualificável dos países do Sul e um sofrimento inaceitável infringido aos seus cidadãos – neste domínio Manfred Weber (que liderava a bancada do PPE) e Paulo Rangel, cada um à sua escala própria, foram caras lamentáveis dessa por demais triste fase da vida europeia; (v) sobram os socialistas, que remaram contra a maré como puderam (o papel de Martin Schulz foi visível e muitíssimo determinante, como também foi mais tarde o de Pierre Moscovici, embora não devam ser esquecidos outros contributos preciosos, como designadamente os produzidos no ECON por parte de Roberto Gualtieri e Pervenche Berès ou dos nossos Elisa Ferreira e Pedro Silva Pereira, esparsamente coadjuvados pelo “verde” Sven Giegold), não obstante o facto patente nos comportamentos observados em alguns dos socialistas (?) que estavam dominados pelo enquadramento de falcões e alemães (entre comissários e o então presidente do Eurogrupo, Dijsselbloem), nem sempre primando pela decência e pela coragem mínima que se lhes exigiam.

E termino: posta nos termos em que é posta, a análise anterior não será talvez integralmente isenta; mas também haverá que reconhecer que ela corresponde a uma leitura largamente factual e demonstrável pela evidência. Claro que quem queira aceitar os seus pressupostos, só poderá votar pela Europa e, em Portugal, tal só poderá significar votar no PS – quer porque António Costa é, no momento atual, o único político nacional com influência e pensamento europeu, quer porque os socialistas são a única esperança restante de uma possível presença europeísta forte e reivindicativa (em relação à agenda dos grandes diretórios) no PE. E, neste comprimento de onda, não valerá a pena pensar-se, no momento da cruzinha, na gritante falta de jeito de Pedro Marques, na manifesta inadequação deste ou daquele candidato presente na lista ou em quaisquer outras inconsequências que por aí possam saltar aos olhos de cada um...

Sem comentários:

Enviar um comentário