(Ainda sem uma visão completa dos resultados das
Europeias por toda a Europa, as projeções que chegam de Bruxelas anunciam-nos que
o futuro Parlamento Europeu deixará de assistir ao peso da alternância entre os
Populares Europeus e os Socialistas e Sociais-Democratas, com uma perda que pode ir
até 90 deputados. O que
sinceramente considero ser uma boa notícia, atendendo ao contributo dessa “maioria”
estranha e contranatura para a má situação da União. E a perceção de que é a
subida dos Verdes e dos Liberais (a par de algumas vitórias socialistas em
Portugal, em Espanha e na Holanda) que contém o surto nacionalista e de extrema-direita
(apesar da subida desta última) não deixa de ser um facto positivo-
Lendo o problema a partir do que tem sido o pensamento mais recente dos
socialistas franceses e alemães, nunca acreditei que os sociais-democratas e socialistas
europeus fossem capazes por si só de criar condições para uma viragem e
sobretudo com distância suficiente ao erro histórico do apoio dos socialistas
ao Tratado Orçamental. Do PPE muito menos, aliás visível no embaraço com que o
candidato Paulo Rangel atirava para canto as investidas que sobre ele caíam sobre
a má qualidade e comprometimento da sua família política. Por conseguinte, a
viragem nunca poderia emergir dessa maioria comprometida. A única interrogação
era se a viragem viria pelo lado mais ameaçador ou se, pelo contrário, poderia
resultar do reforço de outras forças europeístas ou pelo menos com algum
sentido crítico positivo.
O grupo dos Liberais ainda carece de compreensão e clarificação, sobretudo
porque a entrada do grupo de Macron irá provocar reajustamentos. Mas a subida
dos Verdes na Alemanha, em França e estima-se que a subida do PAN em Portugal
tem também essa matriz, aponta claramente para uma nova tendência de um
eleitorado mais jovem que os PPE e os Socialistas perderam lamentavelmente.
Sinto-me mais confortado com uma frente mais alargada para barrar o caminho
à extrema-direita e ao nacionalismo xenófobo, que não inclua apenas a frente
que cavou inapelavelmente o atual estado da arte na União. A presença dos Liberais
e dos Verdes nessa frente robustece esse posicionamento, embora a “governação”
do Parlamento Europeu se torne bem mais complexa. Mas tudo é preferível à manutenção
do status quo e o estado deplorável do SPD alemão e dos socialistas demonstra
bem essa evidência.
Cá pelo burgo, estou curioso com o que vai mudar na estratégia do PS em
função do facto do Bloco de Esquerda se ter mostrado e de que maneira. Não é
seguro que a alternância observada entre o Bloco e o PCP produza lastro para as
legislativas, mas o excelente resultado obtido por Marisa Matias e o partido não
vai deixar de produzir consequências do ponto de vista da relação a três. Todos
sabemos que o diálogo é feito na geringonça aos pares, PS versus PCP e PS
versus Bloco e não globalmente. Ora, ninguém sabe o que irá pela cabecinha de
alguns pesos pesados do partido. E há a interrogação de saber se os resultados
do PAN serão estendidos às legislativas. A hipótese de um grupo parlamentar do
PAN não será de enjeitar, o que a confirmar-se poderia baralhar o cenário dos
acordos parlamentares.
Quando escrevo, fala Paulo Rangel e do CDS nem vê-los. A incapacidade da
direita parlamentar em situar-se em patamares eleitorais mais robustos reflete
o estado da direita pós geringonça. Esperaria à direita resultados mais
convincentes do Aliança de Pedro Santana Lopes com um excelente candidato Paulo
Sande e até da Iniciativa Liberal. O crescimento do PAN parece ter matado o
crescimento possível, em função da qualidade do discurso e do empenho democrático
na Europa, do Livre de Rui Tavares.
Fica para os próximos dias uma leitura mais fundamentada dos resultados
nacionais e europeus e das suas possíveis conexões.
Nota final: aparentemente os jovens portugueses não seguiram a tendência europeia de reforço de votação em termos absolutos nas europeias, tamanha foi a abstenção observada em Portugal quando comparada com outros países. É tempo de assumirem as suas responsabilidades.
Nota final: aparentemente os jovens portugueses não seguiram a tendência europeia de reforço de votação em termos absolutos nas europeias, tamanha foi a abstenção observada em Portugal quando comparada com outros países. É tempo de assumirem as suas responsabilidades.
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