domingo, 26 de maio de 2019

MIXED FEELINGS



(Ainda sem uma visão completa dos resultados das Europeias por toda a Europa, as projeções que chegam de Bruxelas anunciam-nos que o futuro Parlamento Europeu deixará de assistir ao peso da alternância entre os Populares Europeus e os Socialistas e Sociais-Democratas, com uma perda que pode ir até 90 deputados. O que sinceramente considero ser uma boa notícia, atendendo ao contributo dessa “maioria” estranha e contranatura para a má situação da União. E a perceção de que é a subida dos Verdes e dos Liberais (a par de algumas vitórias socialistas em Portugal, em Espanha e na Holanda) que contém o surto nacionalista e de extrema-direita (apesar da subida desta última) não deixa de ser um facto positivo-

Lendo o problema a partir do que tem sido o pensamento mais recente dos socialistas franceses e alemães, nunca acreditei que os sociais-democratas e socialistas europeus fossem capazes por si só de criar condições para uma viragem e sobretudo com distância suficiente ao erro histórico do apoio dos socialistas ao Tratado Orçamental. Do PPE muito menos, aliás visível no embaraço com que o candidato Paulo Rangel atirava para canto as investidas que sobre ele caíam sobre a má qualidade e comprometimento da sua família política. Por conseguinte, a viragem nunca poderia emergir dessa maioria comprometida. A única interrogação era se a viragem viria pelo lado mais ameaçador ou se, pelo contrário, poderia resultar do reforço de outras forças europeístas ou pelo menos com algum sentido crítico positivo.

O grupo dos Liberais ainda carece de compreensão e clarificação, sobretudo porque a entrada do grupo de Macron irá provocar reajustamentos. Mas a subida dos Verdes na Alemanha, em França e estima-se que a subida do PAN em Portugal tem também essa matriz, aponta claramente para uma nova tendência de um eleitorado mais jovem que os PPE e os Socialistas perderam lamentavelmente.

Sinto-me mais confortado com uma frente mais alargada para barrar o caminho à extrema-direita e ao nacionalismo xenófobo, que não inclua apenas a frente que cavou inapelavelmente o atual estado da arte na União. A presença dos Liberais e dos Verdes nessa frente robustece esse posicionamento, embora a “governação” do Parlamento Europeu se torne bem mais complexa. Mas tudo é preferível à manutenção do status quo e o estado deplorável do SPD alemão e dos socialistas demonstra bem essa evidência.

Cá pelo burgo, estou curioso com o que vai mudar na estratégia do PS em função do facto do Bloco de Esquerda se ter mostrado e de que maneira. Não é seguro que a alternância observada entre o Bloco e o PCP produza lastro para as legislativas, mas o excelente resultado obtido por Marisa Matias e o partido não vai deixar de produzir consequências do ponto de vista da relação a três. Todos sabemos que o diálogo é feito na geringonça aos pares, PS versus PCP e PS versus Bloco e não globalmente. Ora, ninguém sabe o que irá pela cabecinha de alguns pesos pesados do partido. E há a interrogação de saber se os resultados do PAN serão estendidos às legislativas. A hipótese de um grupo parlamentar do PAN não será de enjeitar, o que a confirmar-se poderia baralhar o cenário dos acordos parlamentares.

Quando escrevo, fala Paulo Rangel e do CDS nem vê-los. A incapacidade da direita parlamentar em situar-se em patamares eleitorais mais robustos reflete o estado da direita pós geringonça. Esperaria à direita resultados mais convincentes do Aliança de Pedro Santana Lopes com um excelente candidato Paulo Sande e até da Iniciativa Liberal. O crescimento do PAN parece ter matado o crescimento possível, em função da qualidade do discurso e do empenho democrático na Europa, do Livre de Rui Tavares.

Fica para os próximos dias uma leitura mais fundamentada dos resultados nacionais e europeus e das suas possíveis conexões.

Nota final: aparentemente os jovens portugueses não seguiram a tendência europeia de reforço de votação em termos absolutos nas europeias, tamanha foi a abstenção observada em Portugal quando comparada com outros países.  É tempo de assumirem as suas responsabilidades.

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