(Com uma taxa de participação de 64,3% nas eleições
europeias, provavelmente induzida pela simultaneidade com eleições municipais e
autonómicas (embora não em todas as Comunidades Autónomas), o 26 de maio em
Espanha foi um fervilhar político, com alguns resultados surpreendentes. Confirma-se que o PSOE é a única força política
espanhola com presença maioritária em todo o território espanhol, mas há
resultados com matizes inesperados.
Que a Espanha estava em
combustão política desde as eleições legislativas de 26 de abril já o sabíamos.
Mas se cotejarmos os 64,3% de participação nas europeias com os humilhantes 31%
por cá observados, compreendemos a dimensão dessa combustão.
Em matéria de europeias,
o PSOE tem uma vitória calma e segura, liderado por um nome de grande prestígio
na política espanhola, Josep Borrel e não posso deixar de comparar essa aposta
com a de António Costa em Pedro Marques. Os resultados europeus do PSOE confirmam
a sua posição em alta na política espanhola de hoje. Para além disso, a única
novidade de monta aconteceu na Catalunha, com o partido de Puigdemont a superar
em votos o de Oriol Junqueras, parecendo sugerir que a fuga no estrangeiro
rende mais votos do que a prisão. O que é para mim uma surpresa total, embora o
acordo político da Esquerra Republicana de Junqueras com o Bildu basco lhe
proporcione mais deputados. Abre-se aqui a grande interrogação se Puigdemont
alguma vez ocupará o seu posto de deputado em Estrasburgo, já que aparentemente
para o fazer teria de passar por Espanha.
Se juntarmos os
resultados do PS em Portugal, do PSOE em Espanha e do Partido Democrático de
Zingaretti em Itália, o socialismo da Europa do Sul surge reforçado no grupo
dos socialistas europeus tão necessitado de ideias novas e sangue fresco.
Mas se nas Europeias a
leitura parece clara, já nas municipais espanholas a vitória global do PSOE,
que se afirma com uma invejável presença por todo o território, foi atravessada
por matizes bem mais complexos. Assim, o mau resultado do candidato de Sánchez
no município de Madrid, o antigo selecionador de basquetebol Hernández,
combinado com o também péssimo resultado do PODEMOS, faz com que a alcaldeza e
abuela Carmena se retire da vida política, apesar da sua formação ter sido a
mais votada na capital espanhola. É um sério revés simbólico pois dá ao PP um
símbolo de resistência a partir do madridismo mais conservador. Madrid
reeditará a coligação PP-CIUDADANOS-VOX. Como a sondagem à boca das urnas dava
a continuidade no poder da abuela Carmena, consta que o PP teve à última hora
de preparar festejos. Do mesmo modo, também na Comunidade de Madrid
(autonómicas) a direita do POP resistiu. Teremos portanto um domínio nacional
PSOE, com o seu eventual parceiro de coligação PODEMOS largamente fragilizado,
pois não conseguiu meter a mão no prato em qualquer município (a vitória
esmagadora em Cádiz é um engano, pois o candidato já fez campanha autónoma e
sem qualquer laço com Iglésias).
Na também simbólica
Catalunha, o efeito surpresa Manuel Valls não funcionou de todo. A também
carismática Ada Colau perdeu as eleições em número de votos, não em termos de
deputados municipais, sobretudo devido ao excelente resultado do candidato do
Partido Socialista Catalão que parece ter capitalizado a posição equívoca que
Colau tem mantido em relação ao independentismo. Pois foi a Esquerra
Republicana, através do veteraníssimo Ernesto Maragall, irmão do grande Pascual
e antigo presidente do município de Barcelona, que ganhou a votação e salvo um
acordo político entre o PSC e Colau, será a Esquerra Republicana a governar a
cidade simbólica.
Como previ em post anterior, a desorientação fraturante
nas Mareas galegas custou-lhe o poder nas principais cidades, com o PSOE e o
Bloco Nacionalista Galego a terem que definir quem governará. Em Vigo, Abel
Caballero, que não morre de amores pela cooperação com o Norte de Portugal e
que teve aquele arrufo com Rui Moreira por causa da TAP, teve uma vitória
estrondosa, arrasando o PP (64% contra 14%). Cá para mim vai-se projetando como
a única alternativa ao PP de Nuñez Feijóo para a Xunta quando daqui a dois anos
a Galiza for a eleições em termos de autonómicas. Já na Corunha, o PP consegue
uma vitória ligeiríssima sobre o PSOE, levantando-se agora a questão de saber
se o PSOE (com 30% e 9 deputados), a Marea (com cerca de 20% e 6 deputados) e o
Bloco Nacionalista Galego (com 7% e 2 deputados) conseguirão gerar uma
governação para o município. Em Santiago de Compostela, o PSOE parece ter
recuperado o município à custa da perda da Marea, apesar do apoio do
carismático Professor Beires.
Nas
autonómicas realizadas, o PSOE tem uma esmagadora vitória na Estremadura onde
governará, uma vitória também nas Astúrias e um resultado de vitória excelente
no feudo do PP em Castilla y León, mas não dará para governar dado o apoio da
direita à continuidade no poder do PP. Parece também que o PSOE poderá
capitalizar em governo a sua vitória em La Rioja.
Em resumo, o
PP, o CIUDADANOS e o VOX podem ter adquirido alguma energia simbólica para a
grande barganha política que a investidura de Sánchez e a constituição do
governo vão representar nas próximas semanas. A forte pulverização do PODEMOS
com resultados péssimos nas municipais e o seu contributo indireto para que a
abuela Carmena tenha perdido o ayuntamiento de Madrid, já que Pablo Iglésias
apoiou, sem êxito, o vereador em litígio com Carmena, fragilizam a hipótese do
PODEMOS exigir a sua participação no governo. Ou seja, europeias, municipais e
autonómicas, apesar de reafirmarem a onda PSOE, não vieram facilitar, nem
clarificar, as complexas e duras negociações que aí se perfilam para que uma
nova legislatura seja iniciada com um mínimo de estabilidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário