(Eu sei bem que a política hoje se faz com outro tipo de protagonistas.
Mas quando desaparece uma personalidade a quem associávamos o nosso
entendimento do que é estar na política, é triste porque vai ficando cada vez
mais claro que o velho paradigma tende para o desvanecimento. A morte de Rubalcaba insere-se nesse padrão.
Não é por acaso que a imagem que abre este
post reúne Alfredo Rubalcaba e Carme Chacón (ele como Vice-primeiro Ministro e
Ministro do Interior, ela como Ministra da Defesa), quando visitavam uma zona
do sul de Espanha (Lorca, Murcia) atingida em maio de 2011 por um terramoto. Carme
e Alfredo partilhavam a mesma maneira de estar na política, o mesmo sentido de
sentido público, a mesma gravidade e o mesmo desprendimento relativamente ao
exercício do poder e ilustram as razões de quanto e como algumas personagens do
PSOE marcaram a minha visão da política. Essa dimensão do PSOE sempre me impressionou,
sobretudo do ponto de vista de como combinava modernidade, identidade espanhola
e um combate constante às desigualdades e injustiças.
Vários comentadores espanhóis referiram hoje o paradoxo de alguém que foi
campeão universitário espanhol dos 100 metros se ter transformado num político
do tempo longo, que tem a perceção quando o sentido de Estado tem de prevalecer
sobre tudo o que pode ser acidental, por muito respeitável e importante. Não
foi por acaso que Alfredo Pérez Rubalcaba fica ligado à resolução final da
questão da ETA, tendo ainda revelado uma capacidade de sacrifício notável
quando aguentou a presidência do PSOE num contexto dificílimo de perda de
impacto no eleitorado da sociedade espanhola, que então se virava para a
novidade do PODEMOS.
O acidente vascular cerebral que haveria de o conduzir irreversivelmente à
morte apanhou-o no seu regresso de grande nobreza às suas aulas de Química da Complutense
de Madrid onde se doutorou, após ter abandonado a vida política depois de ter
apoiado contra Pedro Sánchez a derrotada Susana Diáz. A jornalista do El País Anabel
Díez refere numa crónica sobre a morte de Rubalcaba (link aqui) que, em
determinada reunião à porta fechada do partido, o líder da Estremadura Guillermo
Fernández-Vara foi ovacionado quando proferiu a seguinte afirmação: Iremos
todos embora, outros virão para nos substituir, mas Alfredo Pérez Rubalcaba
ficará para sempre”.
Recuso-me a aceitar, embora as evidências para isso apontem, que a política
deixe de ser servida por Homens como Rubalcaba. Algum dia eles voltarão para um
regresso ao velho normal de entrega, transparência, desprendimento, dando e não
pedindo.
Presentemente na mó de cima, o PSOE sentiu a morte de Alfredo Pérez
Rubalcaba. São bons sinais do ressurgimento do PSOE e a Espanha precisa
urgentemente desse ressurgimento.
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