sexta-feira, 10 de maio de 2019

ALFREDO PÉREZ RUBALCABA



(Eu sei bem que a política hoje se faz com outro tipo de protagonistas. Mas quando desaparece uma personalidade a quem associávamos o nosso entendimento do que é estar na política, é triste porque vai ficando cada vez mais claro que o velho paradigma tende para o desvanecimento. A morte de Rubalcaba insere-se nesse padrão.

Não é por acaso que a imagem que abre este post reúne Alfredo Rubalcaba e Carme Chacón (ele como Vice-primeiro Ministro e Ministro do Interior, ela como Ministra da Defesa), quando visitavam uma zona do sul de Espanha (Lorca, Murcia) atingida em maio de 2011 por um terramoto. Carme e Alfredo partilhavam a mesma maneira de estar na política, o mesmo sentido de sentido público, a mesma gravidade e o mesmo desprendimento relativamente ao exercício do poder e ilustram as razões de quanto e como algumas personagens do PSOE marcaram a minha visão da política. Essa dimensão do PSOE sempre me impressionou, sobretudo do ponto de vista de como combinava modernidade, identidade espanhola e um combate constante às desigualdades e injustiças.

Vários comentadores espanhóis referiram hoje o paradoxo de alguém que foi campeão universitário espanhol dos 100 metros se ter transformado num político do tempo longo, que tem a perceção quando o sentido de Estado tem de prevalecer sobre tudo o que pode ser acidental, por muito respeitável e importante. Não foi por acaso que Alfredo Pérez Rubalcaba fica ligado à resolução final da questão da ETA, tendo ainda revelado uma capacidade de sacrifício notável quando aguentou a presidência do PSOE num contexto dificílimo de perda de impacto no eleitorado da sociedade espanhola, que então se virava para a novidade do PODEMOS.

O acidente vascular cerebral que haveria de o conduzir irreversivelmente à morte apanhou-o no seu regresso de grande nobreza às suas aulas de Química da Complutense de Madrid onde se doutorou, após ter abandonado a vida política depois de ter apoiado contra Pedro Sánchez a derrotada Susana Diáz. A jornalista do El País Anabel Díez refere numa crónica sobre a morte de Rubalcaba (link aqui) que, em determinada reunião à porta fechada do partido, o líder da Estremadura Guillermo Fernández-Vara foi ovacionado quando proferiu a seguinte afirmação: Iremos todos embora, outros virão para nos substituir, mas Alfredo Pérez Rubalcaba ficará para sempre”.


Recuso-me a aceitar, embora as evidências para isso apontem, que a política deixe de ser servida por Homens como Rubalcaba. Algum dia eles voltarão para um regresso ao velho normal de entrega, transparência, desprendimento, dando e não pedindo.

Presentemente na mó de cima, o PSOE sentiu a morte de Alfredo Pérez Rubalcaba. São bons sinais do ressurgimento do PSOE e a Espanha precisa urgentemente desse ressurgimento.

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