sábado, 4 de maio de 2019

COSTA MAGISTRAL

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

Quando pela manhã vi o habitual “HenriCartoon” diário, juro que tive uma espécie de imprecisa premunição sobre algo que poderia estar em vias de suceder. Pouco depois, soube que o primeiro-ministro convocara o seu “núcleo duro” político para S. Bento e senti novamente que íamos ter novidades das grossas. O que foi logo confirmado por uma nota informativa oficial reportando uma ida de Costa a Belém ao início da tarde, à qual se seguiria uma comunicação daquele ao País. A meio da tarde, já passadas as cinco horas, o primeiro-ministro explica-se e anuncia uma demissão irremediável se o plenário parlamentar vier a confirmar a coligação negativa (PSD e CDS juntos com PCP e BE na contagem integral do tempo de serviço dos professores) verificada na Comissão de Educação de ontem. Daqui em diante, tivemos um corrupio de comentários de toda a ordem, adicionados de cirúrgicas e excelentes intervenções televisivas por parte de Centeno e Santos Silva, constatando-se uma clara maioria a evidenciar quanto foi de mestre a jogada de Costa perante uma oportunidade que lhe caiu no regaço de mão beijada. É em momentos destes que se tornam claros os traços distintivos de um político de mão cheia – que aproveita a seu contento o que se lhe oferece e assim consegue retomar a iniciativa e inverter uma relação de forças que crescentemente se lhe estava a tornar desfavorável – em relação a uns ambiciosos mas tenrinhos e descategorizados aspirantes ao poder, na realidade uns amadores no exercício daquela que deveria ser a mui nobre função de oposição competente a um governo instalado. Tudo em política é imprevisível e muda demasiado rapidamente, mas hoje por hoje é caso para se fazer mais uma vénia à magistralidade tática de António Costa.

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