(Jeff Danziger, http://www.nytimes.com)
As democracias modernas são cada vez mais oportunistas e cruéis. O recente caso americano, com um inconcebível Trump no centro de uma equação irresolúvel, tem-se mostrado um exemplo irrefutável disso mesmo. Um homem destituído de mínimos para o desempenho da função de presidente do país mais influente do mundo, capaz de a cada dia impunemente fazer ou dizer das suas (e que suas!), lá vai levando quase tranquilamente a água ao seu moinho. Os dossiês graves já são às dezenas – o último dos quais tendo sido o da interferência russa nas eleições de 2016, conduzindo à recente e vergonhosa confrontação entre os indícios revelados pelo autor do relatório ora divulgado (o procurador especial Robert Mueller, também ex-diretor do FBI) e os desmentidos produzidos sob clara encomenda pelo procurador-geral William Barr –, fazendo com que a maioria da opinião pública já não tenha grandes dúvidas quanto à falta de escrúpulos e sentido de Estado do presidente.
Mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. E o certo é que todos aqueles convencimentos e impressões não passam de epidérmicos face aos mais entranhados interesses imediatos de cada um. Estes provêm e dependem, por sua vez e em última instância, da melhor ou pior situação económica do país e do seu impacto sobre o bem-estar individual e familiar – ora, devido a uma multiplicidade de razões que ainda aqui haveremos de dissecar mais longamente, aquela situação é atualmente muito boa, havendo mesmo quem a caraterize como de “milagre económico” (os grandes números encontram-se bem sintetizados na infografia do “Le Monde” deste fim de semana que abaixo se reproduz), e quando assim é não há conluios e obstruções que possam levar a que se arrisquem resistências que possam inverter a estabilidade adquirida.
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