(Financial Times)
(Existe por vezes a tentação de interpretar o sentimento
europeu dominante ou não que se afirma nos países em função dos resultados económicos
da integração. A análise da convergência entraria nessa interpretação. Porém, a ideia não resiste minimamente aos
factos e evidências disponíveis.
Embora existam outras conceções mais elaboradas
do processo de convergência, a que é mais consumida para interpretação corrente
é a que se situa na chamada convergência absoluta. Em termos muito simples, em
determinado universo de países, estaremos perante um padrão de convergência
quando aos níveis de desenvolvimento mais baixos (medidos por exemplo pelo PIB per
capita à falta de elaboração mais sofisticada) corresponderem para um dado período
taxas de crescimento per capita mais
elevadas. Naturalmente, aos níveis mais elevados de produto per capita corresponderão os crescimentos
per capita mais baixos.
Na interpretação económica do sentimento europeu, um padrão de convergência
absoluta tenderia a determinar uma melhor identificação com o sentimento
europeu nos países mais pobres e o contrário nos mais desenvolvidos.
O gráfico que abre este post, publicado
pelo Financial Times (artigo de Valentina Romei, com link aqui), descreve um
padrão evidente de convergência absoluta. Os países de mais baixo produto per
capta são os que têm crescido per capita a maiores ritmos e os mais ricos, pelo
contrário, são os que de 2007 a 2019 cresceram menos, quase todos a taxas negativas.
Se olharmos atentamente para o gráfico, não é difícil identificar que os países
do centro e do leste da Europa foram os que naquele período cresceram mais em
termos per capita. Isso contrasta com
clareza com as situações de Portugal e da Grécia, cujos valores são
essencialmente explicados pelo dramático ajustamento das dívidas soberanas. A
Irlanda, estranhamente, não consta do gráfico do Financial Times.
Ora, é em países como a Polónia, a Hungria e a Eslováquia que temos assistido
ultimamente às derivas mais perigosas sobre o espírito europeu, em perfeita união
com um padrão elevado de convergência absoluta. O que significa que os
diferentes tipos de populismo que grassam por aqueles países não parecem ter
qualquer relação consistente com a situação económica, pois esses países têm
beneficiado diria eu canonicamente de um padrão de convergência absoluta na União
Europeia. A haver algum determinante económico desse populismo não será por aqui
que o captaremos.
(Financial Times)
Porém, na periferia do sul, incluindo a Espanha, a situação não é brilhante,
O gráfico acima que até a Espanha está abaixo da média europeia (EU28=100). Com
a exceção da Itália, a divergência na periferia do sul não se traduziu até
agora em níveis muito salientes de descontentamento europeu, o que agrava a
complexidade da explicação pretendida.
Mas há uma aspeto que tende a ser mais ignorado. A perceção por parte dos cidadãos
e recipientes de rendimento dos processos de convergência está longe de ser imediata
e clara.
(Financial Times)
Até porque, ao nível das regiões europeias, e estas com mais proximidade aos
cidadãos são também espaço de perceções individuais e coletivas, o padrão não é
de convergência absoluta. Temos um padrão mais fuzzy como o gráfico acima o mostra
eloquentemente.
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