domingo, 6 de junho de 2021

O PAÍS DE QUE NÃO DESISTO

(Luís Afonso, “Bartoon”, https://www.publico.pt) 

Luís Afonso dá-nos hoje no “Público” uma resposta lucidamente triste à questão “como descreveria Portugal?”. Sendo que a sua autoproclamada “classe política”, embora altamente responsável (ou irresponsável?) em termos diretamente proporcionais ao seu peso específico, não ocupa sozinha o pódio das grandes culpas. Que têm muito por onde serem repartidas, incluindo culpas próprias por parte de quem pensa, age e empreende nos espaços “periféricos” (ditos “provincianos”) deste País centralista que somos.

 

Como subscrevi, acompanhado por dois amigos, noutro espaço criado para uma desejada partilha e discussão em torno de saberes e experiências: “As ideias que constroem a realidade imaginada da ‘economia portuguesa”’ são um ‘constructo social’ tecido por uma rede de histórias incrivelmente complexas em que todos acreditam. Enquanto esta força intersubjetiva persistir, persistirá também, com adaptações, a nossa realidade imaginada – que continuará a existir, independentemente dos seus efeitos, enquanto não houver uma rotura na confiança intersubjetiva que a sustenta. Esta rotura parece cada vez mais eminente... e assustadoramente perigosa. Mas para substituir uma ‘realidade imaginada’ é preciso mais: que as (novas) elites construam uma nova narrativa e criem a confiança intersubjetiva nessa nova ‘ordem imaginada’.” E ainda: “Na verdade, o problema é muito profundo. O modelo político-económico vigente, que é profundamente retrógrado, gerou uma ‘sobreprodução de elites’. Deixamo-nos apanhar pelo vírus do ‘cobertor curto’. Isto é, não há lugar para todos os indivíduos que pretendem ocupar um lugar no poder (e usufruir dos seus benefícios). Como consequência, o Estado não consegue gerir as pressões de sinal contrário: das elites que tomam conta do poder do Estado, por um lado, e das exigências democráticas dos cidadãos votantes, em matéria de condições de vida e combate às desigualdades, por outro. O País transforma-se numa pista de carrinhos de choque. O Estado entra em bancarrota, moral e financeira.”


(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

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