(O escalão dos 70 é terrível e tive hoje a notícia, via VOZ DE GALÍCIA, que o meu amigo e intelectual galego Xaquín Álvarez Corbacho faleceu no GROVE. Com ele aprendi muito em matéria de municipalismo e federalismo fiscal no quadro dos trabalhos e da reflexão estratégica para o Eixo Atlântico. Com ele aprendi também que falar de descentralização e não analisar conjuntamente o financiamento das estruturas descentralizadas da Administração equivale a falar dos assuntos sem ter os pés bem assentes na terra. Descansa em paz caro Xaquín.
O Xaquín Álvarez Corbacho era um espírito com uma curiosidade imensa, sempre pronto a mergulhar num estudo comparativo e a fazer nele refletir os diferentes contextos em que as matérias em comparação se inserem. Esse espírito de curiosidade permanente não estava em linha com o que regra geral associamos a um Catedrático de Economia Aplicada (Universidade de Santiago de Compostela), que assumiu funções de Vice-Reitor naquela prestigiada Universidade e que foi alcalde de O Grove na transição democrática e animador de muitas das plataformas políticas de esquerda que fizeram experiência em alguns dos municípios da Galiza litoral.
Esteve na Universidade de York para o seu doutoramento nos tempos em que Cavaco Silva também por lá andou e contou-me histórias deliciosas de pomba e circunstância da passagem de Cavaco por aqueles ambientes, tão contrastadas com a sua maneira de estar e de ser dele Xaquín, independentemente dos contextos.
Os seus trabalhos no âmbito da teoria do federalismo fiscal e das finanças públicas territoriais marcaram-me para sempre e com ele aprendi a mergulhar num assunto árido, mas que todos os apoiantes da descentralização deveriam dominar como ele os dominava, com aquela simplicidade que dele destilava nas longas sessões de copas galegas que o grupo que trabalhava nos estudos do Eixo Atlântico fazia nas noites de Santiago ou nas tardes de Tui para ficar a meio caminho.
A notícia-obituário da VOZ (link aqui) faz jus à síntese magnífica de intelectual e animador político que ele representava e não deixa de salientar a sua passagem pelo celta de Vigo como futebolista.
O dia de hoje já é um dia estranho por ser de S. João sem o ser com a pandemia a apertar de novo (é uma exponencial, estúpido), mas mais triste é com esta notícia.
Descansa em paz Xaquín, que aguentaremos a rota que nos estiver reservada, a pensar no exemplo da tua simplicidade profunda.
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