(O Público de hoje, ver notícia acima reproduzida acima em forma de abertura deste post, dá-nos conta que Portugal aparece favoravelmente representado no ranking do Financial Times dos mestrados em finanças a nível internacional, com quatro mestrados. Todos eles pertencem a universidades da aglomeração metropolitana de Lisboa e isso não pode deixar de ser motivo de reflexão crítica.)
Todos sabemos que os rankings valem o que valem e que talvez não mereça a pena queimar pestanas com esta matéria. Aliás, estou farto de registar posicionamentos deste tipo: quando estamos por baixo nesses rankings desvalorizamos, quando estamos por cima, glória das glórias nas alturas.
Mas com as nossas compreensíveis preocupações de atração de recursos humanos avançados, o ranking do Financial Times não pode ser ignorado. Corresponde a um passaporte de internacionalização e estar nele bem posicionado é um primeiro passo para uma consequente política de atração. Ora, se o País como um todo surge este ano no ranking em posição de destaque, não podemos deixar de notar que as quatro instituições nele representadas, Universidade Nova, Católica, ISEG e ISCTE todas pertencem ao universo da aglomeração da capital. E apetece, naturalmente, perguntar “E onde está o Porto, mais propriamente a U. Porto?”
Independentemente dos modelos que tenham escolhido para a sua gestão, os quatro mestrados do universo da capital agora reconhecidos pelo FT têm por trás a suportá-los as quatro instituições universitárias e de investigação, como é aliás compreensível que assim seja.
Se nos reportarmos à Universidade do Porto, o contexto é historicamente um pouco diverso e, embora desde então tenham sido registadas evoluções positivas a que me referirei mais adiante, a PORTO BUSINESS SCHOOL foi inicialmente criada com um grande impulso organizativo vindo dos lados da SONAE (empenho pessoal do Engº Belmiro de Azevedo). Inicialmente, não foi nada claro o modo como a PBS se posicionou face ao substrato científico que nas disciplinas da economia, das finanças, gestão e da sua relação com a tecnologia e das ciências sociais existia na U. Porto, particularmente na Faculdade de Engenharia do Porto (FEUP), na Faculdade de Economia do Porto (FEP) e na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. Diria mesmo que, apesar das colaborações a nível individual de alguns docentes e investigadores dessas Escolas, o projeto inicial da PBS tinha alguma alergia ao academismo da investigação e à sua incapacidade de integrar o mundo da empresa em geral.
Do ponto de vista dos apoios nacionais e europeus, os Fundos Europeus acabaram por ser magnânimos para com o edifício de raiz de PBS, se a memória não me atraiçoa terá tido de apoio FEDER cerca de 30 milhões de euros, o que para fundos conectados com a problemática da inovação não está nada mal.
Inicialmente orientada para a mundo dos MBA e para a formação contínua à medida das empresas, a PBS foi assim criada sem uma perspetiva clara quanto ao suporte de investigação científica e tecnológica que a deveria alimentar regular e permanentemente. Poder-se-á dizer que as participações individuais asseguravam essa ponte, mas desculpem lá a insistência, mas não é bem a mesma coisa que uma solução institucional que coloque a Business School num pipeline consistente com o conhecimento que se produz na matéria. Bem sei que nas ciências sociais, na economia e nas finanças o Porto não é propriamente Berkeley e similares e que o nosso desempenho em termos de publicações científicas fica bastante aquém do que os nossos colegas das engenharias e das ciências da vida e da saúde conseguem alcançar. Mas imaginar que uma Business School é capaz de singrar sem a referida alimentação, sem um clama interno de investigação, perde para qualquer alternativa que se coloque de frente perante esse desafio.
Até porque a PBS tinha á sua frente a grande oportunidade da integração disciplinar que as Escolas individualmente não são capazes de fazer, como o mostra eloquentemente a evolução do tempo. A integração entre a economia, a gestão, a tecnologia, as finanças, as ciências da organização (em que o Porto é mais um deserto do que uma Universidade) e as ciências sociais em geral tinha na PBS o grande espaço de concretização, acaso o pipeline com a investigação tivesse assegurado.
Nos últimos tempos, por iniciativa da própria PBS (com relevo para a ação da Professora Patrícia Teixeira Lopes) e da própria FEP (com a sábia gestão do Professor José Varejão) tem sido alguns passos para melhorar institucionalmente o modelo, sobretudo no que respeita á relação entre a PBS e a Faculdade de Economia. A acreditação em 2021 pela AACSB Internationale é um marco nessa evolução, sucedendo à concretização da ideia de consórcio PBS-FEP.
A declaração de princípios que o Diretor internacional da PBS Ramon O’Callaghan assina no sítio web da Escola:
“Uma das singularidades da Porto Business School, o facto de ser uma escola criada pelas empresas e para as empresas, confere à escola um conjunto de características essenciais para colocar em prática um novo paradigma: passar do modelo das respostas para o modelo das perguntas e desenvolver um cenário de aprendizagem que permita olhar o mundo com novas "lentes" e estimular mentes curiosas. Aqui, não ensinamos receitas. Em vez de dar as respostas, ensinamos a fazer perguntas. Descubra porquê.”
Compreende-se no quadro da procura de um modelo diferenciador, mas interrogo-me até que ponto é possível aprofundar esse modelo sem um quadro institucional que assegure a integração disciplinar atrás referida. E o que me causa bastante perplexidade é que tal matéria parece não constituir grande preocupação entre os muros da U. Porto e na própria Cidade e aglomeração metropolitana do Porto.
Bem sei também que a posição internacional da PBS em termos de MBA tem outros resultados que os proporcionados pelo ranking dos mestrados em finanças do FT e que o Porto como centro financeiro é do reino da imaginação. O meu ponto não é esse. O meu ponto é uma interrogação: face ao panorama das Business Schools pelo mundo e tendo em conta os suportes de investigação multidisciplinar que as alimentam e fertilizam, conseguirá a PBS a diferenciação sustentada que pretende sem resolver cabalmente o problema do pipeline integrador da investigação de suporte?
Tenho as minhas dúvidas e duvido que nas eleições para o Conselho Geral da U. Porto que estão a decorrer essa questão tenha entusiasmado candidatos e votantes.
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