(Miguel Salazar)
(Lá iniciámos o estranho Europeu pandémico com um estádio cheio onde as máscaras pareciam fazer parte de um passado longínquo e com a proteção divina que cobre o seu manto sobre o nosso selecionador. Oitenta minutos esperou Fernando Santos pelo golpe divino, ele lá chegou com o Rafael Guerreiro a querer chutar para um lado e o golo a entrar pelo outro.)
O nosso selecionador além de Engenheiro é um homem convicto de fé e não há dúvida que os Santos o protegem. Talvez esperando uma Hungria mais audaciosa e a jogar bastante mais subida do que aconteceu na esmagadora maioria do jogo, o conservadorismo irrepreensível de Santos alimentou-se desta vez de uma fabulosa dupla de contenção, William e Danilo, deixando a Bruno Fernandes a difícil e ingrata tarefa de emergir nos interstícios da defesa magiar, pobre de individualidades, rica de sentido coletivo. Bruno e Bernardo chegam ao fim desta época estourados pela dinâmica competitiva da liga inglesa e Diogo Jota tarda a reencontrar aquela frieza letal que o caracterizou no Liverpool antes da sua lesão, perdendo duas ou três oportunidades pelo facto do seu capo visual estar limitado à baliza adversária.
E Fernando Santos lá foi esperando como é seu hábito, aguardando que alguém lhe abra a porta. Mexeu aos 71 minutos fazendo entrar Rafa, que até começou mal até destruir o sentido posicional da defesa húngara, só aos 81 minutos abdicou da dupla de contenção substituindo William por Renato e aos 84, abracadabra, Rafael Guerreiro encontra por linhas tortas o caminho do golo. A ordem das coisas estava reposta, a partir daí o triângulo Rafa, Ronaldo e André Silva fez das suas e num ápice o que parecia trágico para começar transformou-se numa sólida vitória.
Temos de nos render a esta virtuosa espera da paciência que já nos valeu um Europeu e uma Liga das Nações. O Homem tem proteção, a sua fé anuncia-lhe o caminho e lá vai criando o seu mundo de vitórias para um conjunto ímpar de atletas.
O estádio cheio, o ar imponente da Puskas Arena e a mais completa ausência de máscaras terão provavelmente reforçado a convicção do Presidente Marcelo de que tudo está controlado em termos pandémicos. Não posso ignorar que me provocaram algum incómodo. Os ultras de camisa preta entre os adeptos húngaros talvez sejam apoiantes de Orbán que não perdeu certamente a oportunidade de mostrar à União Europeia o que é ser Húngaro à sua maneira. A reportagem televisiva terá ignorado a ameaça de invasão de campo que os “delicados” homens das T shirt pretas para não estragar o espetáculo.
Começámos bem o Europeu, vamos à luta, mas por cá a incidência pandémica continua a intensificar-se e de repente Portugal pode quedar-se de novo em contraciclo.
O que parece não impressionar o nosso Presidente, vejamos até quando.
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