quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A VOZ DE CONVENCIMENTO DOS ECONOMISTAS ESTÁ EM BAIXA




(Reflexões em torno de um artigo de Dani Rodrik no Project Syndicate, que veio ao encontro de ideias já afloradas neste blogue…)

Hoje, a meio da manhã, numa curta viagem entre o escritório e o local da reunião, apanhei um daqueles espaços de discussão na Antena 1, no qual um ouvinte se insurgia contra o facto do telefone estar ocupado pela intervenção de vários economistas, perguntando algo zangado ao moderador se o fórum era para os ouvintes poderem intervir ou se era para ficar ocupado por tais personalidades. O azedume era claro, talvez devido à necessidade do ouvinte dar o seu apoio à solução governativa em curso, identificando o tal grupo de economistas entre os que “só deitam para baixo o país” (expressão do ouvinte).

Não tenho elementos para confirmar se o agastamento do ouvinte era o produto de estar impedido de participar por opiniões que iam contra o que desejava exprimir ou se o azedume era um indicador da irrelevância dos economistas.

Utilizo este facto impressivo da minha passagem pela rádio pública esta manhã para suscitar o tema que me interessa tratar que é o da irrelevância dos economistas e do pensamento que produzem como fator de alerta ou convencimento das populações eleitoras quanto a derivas políticas que interessa combater. Já aqui me referi a um manifesto de economistas Nobel de Economia, que integrava no grupo de signatários da carta aberta aos eleitores americanos economistas e pensamento que eu nunca julguei ser possível reunir numa tomada de posição pública, reunindo algo e o seu contrário, paradigmas que se combatem no jogo da reprodução do conhecimento nas Universidades. Esse manifesto preocupou-me e alertou-me para o que poderia estar a acontecer com as eleições americanas, tamanho foi o significado que atribuí à inesperada convergência no combate à ameaça Trump. O referido manifesto não terá produzido o mínimo impacto eleitoral, o que veio reforçar a minha convicção de que a VOZ dos economistas está em baixa.

O último artigo de Dani Rodrik no Project Syndicate agarra o tema por uma outra perspetiva, que é afinal o dos efeitos do comércio internacional e da globalização em geral, que é o domínio de especialização do economista turco-americano, numa obra que é diferenciadora em tudo o que diz respeito a um pensamento crítico sobre a globalização.

Rodrik insiste sobretudo nos erros por omissão na avaliação e publicitação dos efeitos provocados pelo impulso do comércio internacional e da integração económica dos países determinados pela desregulamentação e plena liberalização do comércio. Nomeadamente no que respeita aos acordos internacionais e aos impulsos de liberalização conduzidos pela Organização Mundial do Comércio, Rodrik fala especificamente em enviesamento sistemático da avaliação dos ganhos dos referidos acordos ou processos de desregulamentação, sobrevalorizando ganhos, e de minimização de riscos e perdas, subavaliando-os. O que Rodrik nos diz é que a teoria económica foi erradamente utilizada para disseminar uma falsa ideia sobre o modelo de win-win do comércio internacional desregulamentado e plenamente liberalizado, contribuindo para a manutenção de um “status quo” de ponderação dos benefícios desse comércio que iria revelar-se ruinoso. É verdade que uma grande parte das situações de desigualdade e de perda de rendimento associados à integração económica aprofundada por via do comércio internacional livre mantêm com os efeitos da tecnologia, também ela globalizada e a difundir-se a velocidades cada vez mais rápidas, uma relação de forte integração e potenciação recíproca. O criticismo sobre o comércio internacional livre foi sempre apontado pelo “establishment académico” ou como um resquício das ideias retrógradas e bafientas do protecionismo ou então como servindo os interesses desse mesmo protecionismo, proporcionando-lhe pro bono argumentação. Ironia das ironias, não foi esse criticismo inteligente do comércio internacional sem regras que instalou nas economias ocidentais a rejeição da globalização e dos acordos regionais de comércio livre. Foi antes com os argumentos da perda de emprego, de rendimento e de condições de mobilidade social ascendente que o espectro do protecionismo volta a pairar sobre os rumos da economia mundial. Talvez se esse criticismo inteligente como o de Rodrik tivesse sido ouvido fosse possível corrigir a tempo os desmandos da globalização. E a VOZ dos economistas fosse mais ouvida.

Sem comentários:

Enviar um comentário