Quando tudo indica que poderá estar por um fio a resistência do autoproclamado Estado Islâmico em Mossul – segunda cidade do Iraque, conquistada em junho de 2014 por Abu Bakr al-Baghdadi e onde este se declarou califa e impôs a uma população que tomou como refém um regime de rara violência e implacável terror –, é perante uma derrota decisiva do Daesh (organização que tem vindo a perder sucessivamente terreno, após já ter controlado um terço do território do Iraque e da Síria) que em boa hora nos encontramos.
Entretanto, e para quem olha distanciadamente para aquela Região em complexa guerra total (já há quem a designe como uma “nova guerra dos 30 anos”), fácil se tornou confundir alhos com bugalhos, tendo-se enganadoramente misturado realidades só à primeira vista idênticas (uma grande cidade sunita, um poder central xiita, uma insurreição armada religiosa dominante e uma coligação internacional vinda em apoio das autoridades locais). Ao invés, e de facto: uma Mossul que foi aereamente bombardeada por uma coligação de forças internacionais (sessenta países liderados pelos Estados Unidos, doze dos quais realmente ativos e neles não se incluindo a participação do governo de Bagdade) e uma Alepo que foi literalmente cercada e tentativamente dizimada por um dilúvio de bombas sofrido durante anos às mãos do ditador sírio (os russos só chegaram há um ano atrás) em resposta a uma sublevação de pendor democrático e moderado de uma parte crescente da população (que, aliás, não cedeu de modo significativo).
E, para além de tudo isso, ainda temos toda a intrincada questão geopolítica que ali está concentrada em cada metro quadrado de terreno de modo nem sempre facilmente inteligível. Grandes potências ocidentais, Sunitas e Xiitas nas suas diferentes expressões, Russos e Turcos nas suas específicas manifestações expansionistas neoimperiais, Curdos divididos em geometrias variáveis e tanto mais que neste momento não vem ao caso aqui tratar mas a que voltarei em próxima ocasião.
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