quarta-feira, 9 de novembro de 2016

DAY AFTER




(Há que ser positivo, afinal ganhei uma noite de sono, pois se a tivesse perdido e com a derrota dos Democratas seria tudo a negativos)

O comentário político pós vitória de Trump está fervilhante, pois talvez nem o próprio antecipasse uma vitória com estes contornos apesar de apenas ¼ do eleitorado possível nos EUA (quase 47% de abstenção) lhe ter dado o acesso futuro à sala oval e imediações. A amargura resiliente de Krugman no seu blogue de hoje, depois de atividade intensa no Tweeter, falando do fim do romance americano e da necessidade de pensar sobre a derrota mas não de conceder a rendição, é uma boa imagem do que vai na alma dos que não ousaram antecipar uma vitória de Trump. O mapa eleitoral da América é de uma divisão tal que o mistério está em saber como é que se concerta uma fratura desta natureza, uma América claramente mais dividida do que alguma vez o pensamento democrata alguma vez imaginou existir.

Mas há traços estruturais por detrás da vitória de Trump que importa considerar, pois parece-me que transcendem os muros (estou curioso quanto à concretização das promessas de Trump nesta matéria) da nação americana. Por exemplo, a força da penetração do pensamento (ou lá o que é que o candidato destila) de Trump nas classes operárias brancas, sobretudo as menos educadas, dá que pensar, representando o fim do discurso da globalização com benefícios para todos. Talvez seja precipitação pensar imediatamente na base de apoio operário da Frente Nacional em França, mas em meu entender pouca atenção tem sido prestada aos perdedores no mundo do trabalho que a globalização tem provocado.

Mas pelo que se vai conhecendo dos resultados e das análises sociológicas que têm suscitado também se conclui que Hillary perdeu completamente os ganhos que Obama tinha conseguido entre os afroamericanos, os hispânicos e até nas mulheres, fazendo inverter o prato da balança nos tais Estados críticos em que a contenda tende a ser decidida. Se me parece fácil explicar as perdas de Hillary nesses ganhos de eleitorado anteriormente conseguidos por Obama, já é mais difícil explicar as razões de Trump ter capitalizado essas perdas, sobretudo em grupos sociais potencialmente atingidos pela sua xenofobia. Dá para imaginar que os eleitores já se habituaram a considerar as eleições como algo de teatral, não levando a sério um candidato que objetivamente ameaçou a sua integridade como minoria, mas utilizando-o como bandeira de manifestação do seu protesto. E que bandeira! Devastadora, mas trágica, já que a probabilidade de Trump ser MAIS UM a defraudar as expectativas revanchistas e de interrupção do curso da história é grande e com isso aumentar a raiva dos que se pronunciaram, não nas sondagens das quais se alhearam inteligentemente, mas na ida às urnas.

Mas que tempos! E o pior é que isto não fica por aqui. Veremos as réplicas desta onda em futuras eleições na Europa.

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